O governo de Agnelo Queiroz criou alguns cenários diferentes em redutos nunca antes promovidos na história desse Distrito Federal. Entre eles a elevação de status da Terracap à categoria de uma agência de desenvolvimento. Essa providência, considerando a necessidade eminente de salvar a empresa, poderá ser a única saída se a intenção for mesmo essa.
Na segunda-feira 12, Alexandre Navarro será seu novo presidente. Desenvolto e pragmático, ele revelou com exclusividade a Notibras, durante entrevista regada a café, água mineral e biscoitos caseiros na noite da sexta-feira 9, algumas diretrizes que pretende implantar imediatamente.
Segundo sua analogia, a companhia é a empresa de petróleo do DF. Com uma agravante: se os árabes sabem que o precioso líquido estará esgotado em poucas décadas, o petróleo da Terracap, que é a terra, será traço em menos tempo. Com um estoque de áreas e receita decrescentes, a empresa é finita. Lógica que existe desde a sua criação.
O advento de ser transformada em agência de desenvolvimento abre a perspectiva de novos negócios estruturantes que vão gerar receita, além daquela que existiu até hoje, beneficiando seletos incorporadores e quase nada a população.
O outro grave problema é que a Terracap não é agente financeiro, ainda assim vende seu único produto mediante uma entrada e módicas prestações. Por não ser um banco e não ter a orientação do SFH, acumulou 600 milhões em créditos podres sem ter instrumentos eficazes de cobrança.
É como se um cidadão entrasse em uma concessionária de veículos, desse uma pequena entrada e dezenas de cheques pré-datados sem fundos ao dono da loja, transferindo ou alugando seu automóvel a terceiros sem ser importunado. Isso tudo sem passar por uma financeira que pratica regras de mercado e protege seu capital.
Além disso, historicamente a Terracap nunca antecipou oferta de produtos às demandas reprimidas. Essa fator foi determinante para o surgimento de cerca de 500 condomínios horizontais irregulares espalhados pelo Distrito Federal.
Segundo Navarro, que grifou o fato de ser o único representante da língua portuguesa no Comitê de Administração Pública da ONU, a Terracap não terá alternativa e seu futuro depende de uma nova política de negócios com participação de investidores internacionais. Esse modelo contempla a exploração de concessões de trens, metrô, vias expressas, infraestrutura, shoppings, sistemas aeroportuários e outros modais.
Providência que deveria ter sido tomada há alguns anos porque são consolidadas em médio e longo prazos, quando a empresa estará agonizando.
Sobre o estádio Mané Garrincha, definitivamente não é um modelo de novo negócio e sim um ralo de recursos públicos, diz Navarro. Uma solução deverá ser encontrada com urgência. Sobre o autódromo Nelson Piquet, que nunca gerou receita mas que também não engolia tanto os cofres do Buriti, vai depender do exame sobre o contrato com a Fórmula Indy.
A prova será realizada, afirma, ainda que o autódromo não tenha sido reformado de acordo com os projetos. É uma situação em adiantado curso, sem retrocesso. O futuro dependerá dos dividendos que a categoria vai gerar em termos econômicos e de imagem para Brasília.
O grande dilema que vai enfrentar Alexandre Navarro é o que fazer em curto prazo para alterar a única fonte de receita da empresa que são seus lotes urbanos – os rurais representam uma espécie de reserva técnica até que se tornem urbanos -, por isso rentáveis, mas que estão em extinção.
A caixa preta ainda não foi aberta pelo novo governo, mas quem conhece sabe que o samba de uma nota só, tocado pela Terracap ao longo de décadas, está com os dias contados. Também há décadas. Se Rollemberg der o aval que Navarro vai precisar para suportar as piores pressões, o novo presidente aparenta ter a ressonância em 3D da companhia e um tratamento adequado ao paciente.
Mas a contaminação do ambiente é grande, promovida por políticos, empreiteiros, incorporadoras, especuladores e outras bactérias.
Rodrigo Rollemberg talvez seja o mais genuíno e antigo dos brasilienses a assumir o GDF até hoje. Ele é da casa. Sabe muito bem como era Brasília sem Águas Claras, Sudoeste, Noroeste, Pró-DF e algumas aberrações que foram pipocando pelo nosso território só para produzir oxigênio e manter viva a Terracap. Não foi para resolver o grave problema habitacional que depende de outra política de gestão de áreas.
Vender lotes é próprio aos profissionais do Creci. Financiar imóveis é próprio às instituições financeiras. Se Navarro for capaz de iniciar e por em prática o modelo que afirmou ser urgente para manter viva a empresa, a Terracap poderá até mudar de nome. Porque essa marca nem faz mais sentido.
Kleber Ferriche – participou José Seabra