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The 42nd St. Band, a vida do artista quando jovem

Nair Assad, Edição

Trinta e cinco reais (preço médio), selo da Companhia das Letras, 226 páginas. A avaliaçã, de quem leu, é de ‘muito bom’ para ‘ótimo’. Mas é, no fundo, a história da do maior roqueiro brasileiro, quando jovem. Ou, como dizem por aí, um caderno de aprendizado para os fãs do rock.

“The 42nd St. Band” é essencialmente uma prova da imaginação poderosa de Renato Russo. A biografia de uma banda de rock fictícia, escrita quando ele tinha por volta dos 15 anos, atesta que Renato já carregava conhecimento enciclopédico do rock, familiaridade precoce com o jornalismo musical e nenhum freio em suas ambições.

É a história da banda da rua 42, na qual seu alter ego é o baixista Eric Russell (Russo/Russell, simples assim). No texto, passam pelo grupo dois dos maiores guitarristas do rock inglês em todos os tempos, Jeff Beck e Mick Taylor, este integrante dos Rolling Stones entre 1969 e 1974. Personagens imaginários interagem com lendas da música com uma intimidade que o delírio adolescente não questiona.

Renato era um garoto bilíngue. As anotações que serviram de base para o livro são em inglês. Reflexo de seus hábitos de leitura. A americana “Rolling Stone”, que tinha uma aura de bíblia musical nos anos 1970, era revista de cabeceira declarada do brasileiro. Não por acaso, seu livro “reproduz” entrevistas dos integrantes da 42nd St. Band à revista.

A trajetória do grupo é uma colcha de retalhos que contempla vários clichês das biografias de roqueiros. Amigos de adolescência tocam na garagem, partem para os shows, o sucesso vem acompanhado de brigas e crises, os discos ganham elogios ou pedradas da crítica, a vida na estrada é divertida mas cansa, sexo e drogas formam mesmo a famosa tríade com o rock and roll, e por aí vai.

Na capa da edição há um subtítulo impresso em letras pequenas: “Romance de uma banda imaginária”. Há exagero. Porque definitivamente o livro não é um romance. Está mais para um caderno de fã no qual ele cola tudo o que sai sobre seus artistas preferidos em jornais e revistas.

Assim, o que se lê é um mostruário de formatos habituais na imprensa musical, com reportagens narrativas, críticas de discos e shows, entrevistas de perguntas e respostas alternadas (pingue-pongue, no jargão jornalístico), diários de turnês, relação das músicas nos repertórios das apresentações, diagramas com as várias formações diferentes do grupo, discografia em listas.

O material que foi transformado no livro estava disperso em anotações de Renato. O organizador do volume, Tarso de Melo, tenta imprimir um eixo central para conduzir esses textos, mas não escapa de cair em muitas repetições. Se Renato Russo tivesse a ideia de publicar tudo isso, teria talvez editado com mais autoridade para cortar redundâncias e consertar informações conflitantes que aparecem aqui ou ali.

Do jeito que está, é preciso ser muito fã de Renato para atravessar as 226 páginas numa leitura contínua. Quando surge pela terceira vez entre os capítulos o terceiro resumo da carreira da banda, a vontade é largar o livro e ir escutar algum disco da Legião.

A natureza fragmentada do texto pode acabar mais adequada a uma apreciação também fragmentada. “The 42nd St. Band” pode ser aberto em qualquer página e, com sorte, cair em seus trechos mais interessantes. Como a letra de “Blow Job Blues” (“Blues do Boquete”), brincadeira clara com a canção pornográfica dos Stones nunca incluída me álbum da banda, “Cocksucker Blues”.

Falar que é obrigatório para os fãs de Legião é totalmente desnecessário. Quem se interessa por rock também vai querer ler. É, literalmente, o retrato do artista quando jovem.

THE 42nd ST. BAND
AUTOR Renato Russo
TRADUTOR Guilherme Contijo Flores
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34,90 (226 págs.)
AVALIAÇÃO muito bom

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