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Viúva escafedeu-se

Timóteo, traído, confundido e morto como o Bandido do Lampião Vermelho

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

O ano exato não se sabe, mas a maior parte das pessoas diz que aconteceu na década de 1920, em uma cidade do agreste nordestino. E, naquele tempo, era comum a população andar armada, o que transformava o lugar em um negócio rentável para o dono da única funerária por aquelas bandas.

Outra informação que se faz necessária é que, assim como na maior parte do país, a luz elétrica ainda não havia chegado ali, e os moradores precisavam recorrer a fogueiras, lamparinas e lampiões a querosene. Por causa da precária iluminação, o povo jantava antes do sol se pôr e, às 20h, tirando os casais mais empolgados, a cidade adormecia.

Pois bem, muito antes daquele criminoso que assombrou a capital paulista no final dos anos 1960, um outro bandido andava levando pânico àquele pequeno povoado. O tal delinquente, por conta da falta de luz, fazia uso de um lampião de vidro vermelho, o que provocava um contraste macabro durante as noites escuras. Os moradores o apelidaram de Bandido do Lampião Vermelho.

O facínora, além de roubar o pouco que aquela gente possuía, ainda molestava as donzelas, que, por costumes da época, precisavam ser mandadas para um convento, onde passavam a vida inteira rezando para se redimirem do pecado de terem sido violadas. Algumas não suportavam tal martírio e tiravam a própria vida, mas também há casos das que passaram a viver a vida das mulheres malfaladas. Duas ou três, todavia, conseguiram manter segredo da violação e contraíram matrimônio. Adestradas pela mãe, souberam ludibriar o noivo na noite de núpcias.

A despeito do terror que se abateu sobre a população, havia por ali um homem destemido, cujo nome ainda hoje ecoa nas histórias contadas. Genaro Cavalcante, charuto no canto da boca, garrucha na mão, cuspia bala para qualquer desaforado. O cabra andava arretado com esse marginal e prometeu dar fim ao sujeito assim que o encontrasse.
Enquanto a promessa não era cumprida, o Bandido do Lampião Vermelho agiu novamente.

O malfeitor, sorrateiramente, invadiu a casa da dona Francisca, esposa do Timóteo. Entretanto, pelo menos nesse caso, a coisa aconteceu em conluio com a mulher. É que, sem o conhecimento do marido, Francisca andava de namorico com o Bandido do Lampião Vermelho e, durante as noites que Timóteo saía para caçar, ela acolhia o amante debaixo dos lençóis.

O esposo traído, talvez por conta da falta de caça ou, então, por desconfiança, acabou retornando mais cedo para casa. Assim que abriu a porta, ouviu alguns gemidos vindos do quarto. Arma em riste, correu para salvar a mulher das garras do salafrário. No entanto, antes que conseguisse chegar, o Bandido do Lampião Vermelho já havia fugido pela janela, mas deixou o lampião ao lado da cama.

Francisca, amedrontada pela chegada de Timóteo, ajoelhou aos pés do marido e suplicou perdão. O esposo, imaginando que a mulher fosse mais uma vítima do marginal, acolheu-a nos braços. Em seguida, pegou o lampião no chão e prometeu vingar a honra da amada.

A esposa viu o marido sair, quando, não tardou, ouviu um tiro. Correu para fora e viu Timóteo caído a poucos metros da casa. Curiosos correram ao local, onde encontraram Genaro Cavalcante se vangloriando.

— Prometi que ia matar o gatuno e matei.

Os moradores enalteceram a bravura do matador. Em terreiro de Genaro Cavalcante, ninguém se cria. Quanto ao verdadeiro Bandido do Lampião Vermelho, ninguém mais ouviu falar. A viúva de Timóteo, não tardou, também sumiu e, até onde se sabe, nunca se preocupou em dar notícias.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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