Tinha trago ou tinha trazido? Hyai traz é presente

A tarde caia suave e vagarosamente, e não como um viaduto, como cantou o poeta, quando ouvi lá do portão uma voz feminina perguntando se ‘Kasparov’, apelido que me foi dado por amigos enxadristas, estava em casa.

Opa!, pensei com meus botões. Visita da Hyai, minha querida amiga prima da Ia, a quem também tanto admiro. Baixei os braços, fiz andar minha cadeira de rodas, acionei o controle remoto do portão e logo estávamos, nós dois, no ‘quintal-terraço’ onde minha mãe Neusa cultiva e mantém verdejantes diferentes plantas.

Em tempos de Enem, Hyai queria voltar a uma dúvida que muita gente tem: uso do particípio.

Alguns verbos, começou dizendo minha amiga, apresentam dois particípios. “E o que isso significa?”, perguntei, como que desentendido. E lá vieram exemplos:

“Não sabia que o poeta HAVIA MORRIDO.”

“Não sabia que o poeta ESTAVA MORTO.”

“Quando liguei para o banco, o gerente já TINHA ACEITADO a promissória.”

“A promissória FOI ACEITA pelo banco.”

Percebeu?, frisou a prima de Ia. E acrescentou: com os verbos TER e HAVER, devemos usar um tipo de particípio (terminado por –ado ou –ido), que é a forma “regular”; com os verbos SER e ESTAR, outro tipo é chamado “irregular”.

A conversa, agora já com recheio de um suco de framboesa, fluía leve. E, formulando uma pergunta (será que isso também acontece com o verbo TRAZER?), minha interlocutora respondeu numa tacada só: a verdade é que esse verbo só tem um particípio: a forma regular (TRAZIDO).

É inaceitável, portanto, pontuou Hyai, o uso da forma “trago” como particípio: “Perguntou à aluna se ela tinha trago o trabalho.” Isso não existe, ponderei, sorrindo. E minha visitante encerrou o tema, com um enfático “diga sempre TINHA TRAZIDO, HAVIA TRAZIDO, FOI TRAZIDO”.

A propósito, ela trouxe-me um presente. Um livro que comecei a folhear logo que nos despedimos. Mas isso é assunto para outra ocasião.

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