O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro é a prova viva de que quem nasceu lamparina jamais será uma estrela. Nas periferias, o ditado é ainda mais eloquente: quem nasceu para lagartixa nunca será jacaré. Mesmo considerando que da cabeça dos eleitores sai o que menos se espera, sempre respeitei o quantitativo de votos que ele abiscoitou em 2018. Entretanto, não posso deixar de lembrar que, apesar de seus sete mandatos consecutivos como deputado federal, o mandatário ora inelegível está cognitivamente a anos luz dos caciques da direita e dos generais que imaginou comandar. Por isso, não havia como o tiro tentado contra a democracia não sair pela culatra.
Achar que dispunha de inteligência capaz de dominar os mais inteligentes foi seu grande erro. O planejamento e a fracassada execução do golpe contra Luiz Inácio mostraram as razões pelas quais Bolsonaro não passou de tenente no Exército brasileiro. Chegou a capitão graças ao Superior Tribunal Militar que, em 1989, por três votos a dois, revogou sua expulsão da Força. Está explicado porque, logo após a vitória de 2018, ele acreditou que poderia fechar o Supremo Tribunal Federal com um soldado, um cabo e um jipe. Tentou o golpe apoiado no mesmo “esquadrão” e com o “reforço” de mil e poucos fariseus fantasiados de patriotas.
Como é de conhecimento geral, Jair não tinha – e nunca teve – apoio dos militares estrelados do Exército, da Aeronáutica e da maioria esmagadora da Marinha. Se muito, esteve fechado com os PMs matadores do governador Tarcísio de Freitas. Ou seja, somente os desvairados embarcaram na canoa furada da sanha golpista. Obrigado a se cercar de meia dúzia de oficiais graduados, mas absolutamente dissociados da realidade brasileira, o ex-presidente só se deu conta da segunda iminente derrota depois de ser informado que a inteligência das Forças Armadas não estava com ele. E não podia ser diferente.
Faz tempo leio e ouço falar sobre a impossibilidade de generais, coronéis, brigadeiros e almirantes sérios, honrados e verdadeiramente patriotas serem obrigados a bater continência para um cidadão que, em passado remoto, desonrou a farda que um dia envergou. A continência seria de somenos importância. Pior seriam os gritos estridentes e os palavrões chulos que, como presidente, dirigia aos subordinados, inclusive aos generais, tenentes-coronéis e afins, todos dispostos a manter o patamar de empoderamento, consequentemente a segurar à força os vários contracheques que amontoaram em troca da massagem diária no ego do capitão.
E faziam isso com gosto, embora soubessem que o superior hierárquico temporal não tinha nenhuma postura de líder, de mandatário, muito menos de superior militar. O resultado de um presidente cognitivamente inferior a seus comandados foi o que se viu. Interessante e relevante ao mesmo tempo, a percepção de que tudo daria errado chamou a atenção de quem tem pelo menos um neurônio funcionando. Me preocupa o fato de os oficiais antidemocráticos e leais a touperices não terem percebido que estavam escrevendo o epílogo de uma ópera bufa. Tudo indica que até perceberam, mas mantiveram a trama golpista em paralelo ao planejamento de uma fuga do Jair pela porta dos fundos.
Ora, plano B serve apenas como cortina sem fumaça para os que não têm convicção alguma acerca do que planejam. No popular, para os roteiristas de meia tigela. Azar dos falsos profetas e militares de quinta e sorte dos brasileiros que, com uma única cipoada, deve se livrar de um mito fabricado nas entranhas de sorrateiras jararacas, bem como dos filhotes de ratazanas que, de repente, se aninharam no Palácio do Planalto e nas cercanias da Praça dos Três Poderes. Passou da hora de, depois da cana dura, mandar golpistas e simpatizantes para o outro lado da ponte que partiu. Que pelo menos seja mais alta do que aquela usada pelo PM do governador paulista para atirar o suspeito no córrego de escoar bosta.