Fi-lo porque qui-lo
Tico e Teco sugerem fazer algo diferente de Jânio
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emPresidente (da República) pode quase tudo. Principalmente usar nossa língua tupiniquim de forma errada. Uma das frases mais polêmicas que saiu da boca de um chefe da Nação é atribuída a Jânio Quadros, que renunciou ao Palácio do Planalto em agosto de 1961. Em um bilhete manuscrito endereçado ao Congresso Nacional, o ‘homem da vassoura’ simplesmente anunciava que estava renunciando. Indagado do seu gesto, ele respondeu ao seu modo: fi-lo porque qui-lo.
Passadas várias décadas, vale lembrar um pouco de história política e gramatical. Mesmo eu, que nasci décadas depois do episódio, para viver sentado à minha companheira cadeira de rodas (aliás, são três, às quais chamo de extensão das minhas pernas) tive curiosidade de abordar o tema. Vamos lá?
Jânio Quadros gostava de usar palavras difíceis, construções eruditas, para manter sua imagem de pessoa culta. Diz o folclore político que, ao ser indagado sobre os motivos de sua renúncia teria dito a histórica frase: “Fi-lo porque qui-lo”.
Traduzindo para uma linguagem mais acessível, mais moderna, ele quis dizer “fiz isso porque quis isso”, ou, simplificando, “fiz porque quis”.
Esse “LO” nada mais é que o pronome oblíquo “O”, que ganha um L quando a forma verbal termina em “r”, “s” ou “z”, que deverão ser cortados: encontrar-o = encontrá-lo; receber-o = recebê-lo; satisfiz-o = satisfi-lo; quis-o = qui-lo etc.
E a ordem das palavras, estaria correta?
Reza a gramática normativa que algumas palavras, chamadas “atrativas”, têm o poder de puxar para perto os pronomes oblíquos. Entre elas estão as conjunções subordinativas, como o “porque”.
Jânio, portanto, teria errado ao dizer essa frase. Duvido que ele tenha dito, mas a história (ou, repetindo, o folclore político) insiste nessa tese.
Segundo a gramática tradicional, o correto seria “fi-lo porque o quis”. Eu, menos poderoso, prefiro dizer que resolvi fazer. E pronto.
Como este curto texto, desenhado por meus amigos Tico e Teco, enquanto descanso a mente para enfrentar um desafio bem mais interessante: movimentar, contra um adversário à altura, as peças no tabuleiro de xadrez.
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