O desejo de voar sempre permeou o imaginário das crianças. Tem aquelas que sonham estar voando e aquelas que, sim, juram que já levantaram voo. Com Albertinho foi diferente. Primeiro, ele encontrou um livro mágico na biblioteca do pai. Por fora, parecia uma enciclopédia – era grosso, de capa dura. Por dentro, trazia o mundo de Alberto Santos-Dumont. A obra fisga o menino e abre caminho para um sonho. Nele, Albertinho entra com Bartô, seu cachorro, no antigo celeiro abandonado da fazenda onde mora, se depara com quatro das máquinas voadoras criadas pelo famoso aviador e descobre que elas voam com a força da imaginação.
É para o universo de Santos-Dumont que a jornalista Luciana Garbin nos leva em Albertinho e Suas Incríveis Máquinas Voadoras, lançamento da Editora Letras do Brasil, com ilustrações de Marcos Müller. O livro nasceu da vontade de Luciana de apresentar o aviador e suas descobertas às crianças.
“Em uma época em que o Brasil era conhecido apenas pela produção agrícola, Santos-Dumont foi até o centro cultural do planeta, a França, mostrar que um brasileiro podia se destacar também na ciência. Além disso, vários outros conceitos hoje valorizados, como tecnologia, design e empreendedorismo, ele já colocava em prática. Em geral, as crianças aprendem na escola que Santos-Dumont inventou o 14 Bis e virou o ‘pai da aviação’, mas ele fez muito mais do que isso”, conta Luciana, que é curadora da exposição Santos-Dumont na Coleção Brasiliana Itaú, que foi inaugurada em São Paulo em 2016 e desde então percorre o Brasil.
Ao acordar do sonho, Albertinho corre até o celeiro e mal acredita no que vê: as máquinas voadoras continuam lá. Admirado, observa com atenção cada uma delas. O leitor é, então, apresentado às incríveis máquinas Brasil, n.º 6, 14 Bis e Libélula – esta última, considerada sua obra-prima. Albertinho fica louco para compartilhar a descoberta e convida o melhor amigo, Pedro, filho do maquinista da fazenda de seu pai, e a irmã Vivi para conhecê-las. Está formada a turma que, com Bartô, vai se aventurar por locais que guardam profundas relações com Santos-Dumont.
Mas comecemos pela fazenda, o primeiro lugar explorado. O menino combina com os amigos de fazer um voo teste, com a máquina Brasil, num dia em que seu pai e o irmão seguiriam para a estação ferroviária e, de lá, até Campinas. A ideia é acompanhar, do céu, a locomotiva pelo caminho da estrada de ferro. Pedro checa se o cesto, as cordas e a seda estão em ordem, como Albertinho lhe ensinara depois de ler o livro mágico. É Bartô quem puxa as cordas do balão. Albertinho conta até dez e já está entre as nuvens. O garoto imagina que o trem tem um teto de vidro e que seu pai e o irmão podem vê-lo.
Depois do sucesso do voo teste, as crianças passam a sonhar mais alto. Primeiro, um piquenique no céu, cada um em uma incrível máquina voadora. Depois, Paris. Albertinho e Vivi viajam à capital francesa e dão a volta na Torre Eiffel com o n.º6. Feito semelhante rendeu a Santos-Dumont, em 1901, o Prêmio Deutsch. Pela primeira vez o homem provava que era possível dirigir um veículo no ar, sem depender da direção dos ventos.
Elas vão também a Nova York, onde encontram o inventor Thomas Edison, com quem Santos-Dumont também esteve, a um circo e às Cataratas do Iguaçu. Apesar de as crianças dizerem que tudo não passa de imaginação, Luciana Garbin salpica dúvidas pelo caminho.
Conexões. A história traz muitas outras relações com a de Santos-Dumont, a começar pelo nome do protagonista. Mas não para por aí. Albertinho mora em uma fazenda no interior paulista e tem feições comuns ao aviador, além de um chapéu. E há referências mais sutis, para bons conhecedores. Vivi foi inspirada em Virgínia, irmã do aviador, e Pedro era um dos melhores amigos de Santos-Dumont na infância. Bartô homenageia Bartolomeu de Gusmão, também inventor.
Em uma mistura de literatura e informação, o livro apresenta dados históricos da vida e dos feitos de Santos-Dumont, em um quadro no pé das páginas.
Albertinho e suas Incríveis Máquinas Voadoras prioriza o texto, em linguagem simples, gostosa, que flui como um voo. Para criar os personagens e as máquinas, Marcos Müller usou colagens e desenhos, numa junção de realidade e imaginação. Os leitores conhecerão as máquinas como eram na época de Santos-Dumont, graças a fotografias. Müller fez desenhos e também aplicou texturas feitas com giz de cera e aquarela. O teste caseiro, conta o ilustrador, ficou a cargo da filha Lorena, de 5 anos, que o ajudou a encontrar o tom dos personagens e também na produção de detalhes, feitos em massinha.