Numa cidade que tem a história política marcada por personalidades, a exemplo de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, ou pela força partidária do PT que levou ao Buriti Cristovam Buarque em 1994, e Agnelo Queiroz em 2010, Rodrigo Rollemberg é uma exceção. Caso raro na sopa de letrinhas das agremiações políticas brasileiras, é homem de um amor só: é do PSB desde 1985. Essa fidelidade lhe rendeu até citações para cargo de vice-presidente da República.
Seguindo a carreira eleitoral tradicional (Distrital, Federal), Rollemberg alcançou vôos mais altos ajudado pelos circunstâncias. Senador em 2010 graças ao segundo voto puxado pelo companheiro de chapa Cristovam Buarque, o socialista entrou na briga do Buriti quatro anos depois como outsider. A substituição de Arruda por Jofran Frejat no início da campanha não foi o elemento mais importante de sua vitória. Decisiva foi a inabilidade de Agnelo em mobilizar o eleitorado PTista, que o tirou do segundo turno. Sem esquecer o recuo eleitoral de Toninho do PSOL (que passou de 200 mil votos em 2010 para 35 mil em 2014).
Sim, o estudo dos mapas de votação da eleição 2014 indica que o então futuro governador seduziu eleitores de ampla faixa de esquerda. Nada surpreendente numa cidade que destinou mais de um terço dos votos a Marina Silva (então PSB). Governo x oposição é um embate tradicional desde a instituição da reeleição em 1998. Um mostra o que fez e pede para continuar o “trabalho”, o(s) outro(s) focam no que não foi feito, no que não mudou, no que não melhorou – quando não é que piorou, e clama(m) por “mudança” ou “renovação”.
Deixando de lado, por enquanto, o balanço do Governo Rollemberg, vejamos as candidaturas postas. Eliana, Fraga, Ibaneis e Rosso disputam um eleitorado parecido, espólio de Jofran Frejat. Representa perto de 1 milhão de votos, elegeria qualquer um, limitado do lado mais conservador pelo general Paulo Chagas (se ele conseguir a adesão dos fãs do Bolsonaro), e do outro pela alcunha “progressista” habitualmente atribuída à esquerda. Onde se encontra Rollemberg.
Neste campo “da esquerda”, PSOL e PT escolheram candidatos de primeira viagem. Pelas mesmas razões. O partido da bandeira amarela vislumbra, com a mudança da regra de atribuição das “sobras”, a possibilidade real de obter cadeira na Câmara Legislativa pela primeira vez, quiçá na Federal (Maninha, nome histórico do PSOL no DF, já foi federal, mas pelo PT). Érika Kokay, presidente do PT-DF, também aposta no legislativo para que o partido volte ao Buriti. A nominata dos candidatos do PT à CLDF é impressionante, e formará mais uma vez a maior bancada.
Sobrou para Júlio Miragaya o papel de megafone de Lula. Com o porém que, depois de 2002, o candidato a Presidência preferido no DF nunca mais foi o do PT (Alckmin 2006, Marina 2010, Aécio 2014). O reservatório de votos “ideológicos” de Rodrigo Rollemberg continua intacto. A retirada da candidatura Frejat eliminou o eventual risco de perder preciosos sufrágios em nome do problema apontado como número 1 pela população: a saúde. Mas a melhor notícia para o atual governador foi o não surgimento de um novo nome.
Seu empenho no apoio do PSB nacional ao presidenciável do PDT Ciro Gomes tinha a clara intenção de barrar um concorrente trabalhista no DF. O deputado distrital Joe Valle (PDT) teve em 2014 um mapa eleitoral muito parecido com o de Rollemberg. A decisão do trabalhista de consagrar todo seu tempo ao belo trabalho da Fazenda Malunga, e as posteriores idas e vindas estéreis do partido de Brizola tiraram a pedra do meio do caminho de Rodrigo.
Rollemberg tem um governo altamente desaprovado. Mas os julgamentos de “ótimo/bom” e “regular” são superiores a 20%. Rollemberg tem a maior rejeição nominal para o pleito de 7 de outubro. No Datafolha e no Ibope, oscila entre 49 e 58%. É muito, mas não é assustador. Primeiro porque não é fixa. Pode subir. Ou baixar. E está baixando desde o início do ano. Segundo, porque de 100% – 58% ainda sobram 42% que não fecham a porta ao voto para Rollemberg.
Quanto às intenções de voto, o atual ocupante do Buriti parece estar no páreo, empatado com outros, mas ainda num patamar não suficiente para vislumbrar um segundo turno. Para isso, precisa no mínimo atingir 15%. Mas como ninguém ainda chegou neste número, continua aberto.
O objetivo destas linhas não é obviamente de fazer a campanha do governador, muito menos defendê-lo. Ele que trate de fazer isso. Mas serve de alerta para “experts” da cidade que já enterraram Rollemberg.
Além do famoso poder da caneta, que ele tem no mínimo até 31 de dezembro, chamou à atenção um fato em comum na duas pesquisas já citadas: Rodrigo é o líder nas citações espontâneas, a primeira pergunta feita ao pesquisado: “em quem você votaria hoje para Governador?”, sem mostrar nome nenhum. Com 8 e 6 %, respectivamente, ele é o primeiro nome. Todos os outros estão… atrás do Rollemberg.