José Escarlate
Toledo Camargo, que substituiu Humberto Barreto na Secretaria de Imprensa do governo Geisel, integrou a turma de 1981 da Escola Superior de Guerra, alcançando o generalato, já no governo do presidente Figueiredo.
O desfecho de sua missão no Exército se deu por ocasião da viagem de Figueiredo a Florianópolis. Camargão comandava a região militar e, não se sabe a razão, foi designado para cumprir um exercício militar em Passo Fundo. Camargo ainda ponderou que, durante a visita, caberia a ele cuidar da segurança do presidente. Não foi ouvido e teve que viajar para o Sul.
Foi quando se deu aquele triste episódio em que Figueiredo saiu no braço com um grupo de estudantes, que havia ofendido sua mãe. Eu estava lá e ví. Transtornado, Figueiredo partiu para cima da turba: “Agora, o negócio é de homem para homem” – disse o presidente, trocando socos com os jovens.
Há quem diga que esse fato foi provocado, intencionalmente, pela linha dura do Exército. Isso fez com que Camargo – que seria responsável pela segurança do presidente – fosse alijado do projeto de promoção, liquidando com o sonho da quarta estrela. Logo a seguir, caroneado, foi para a reserva. No seu livro, “A Espada Virgem”, ele conta o episódio com detalhes, revelando a sua frustração.
Era um apaixonado por informática. Na sua gestão à frente da Secretaria de Imprensa do Planalto, conseguiu levar para lá um velho amigo da caserna, o engenheiro do Instituto Militar de Engenharia, coronel reformado Edison Dytz, que desembarcou em Brasília trazendo consigo o título de Mestre em Bioengenharia. Simpático, Dytz foi um dos criadores do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília e um dos precursores da criação da Secretaria Especial de Informática, após a saída de Camargo. Anos mais tarde, já general da reserva, Toledo Camargo resolveu se dedicar de corpo e alma à informática.
Aos 73 anos de idade, mesmo sabendo que seria o mais velho da turma, inscreveu-se e fez o vestibular do Curso de Ciências da Computação da Faculdade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Tirou o primeiro lugar. Na hora da matrícula, ao meter a mão no bolso, sentiu que fariam falta no orçamento doméstico os 700 reais da mensalidade. Por pouco não desistiu do curso. Ao tomar conhecimento da pretensão do general, a reitoria da Estácio de Sá concedeu a Toledo Camargo uma bolsa de estudos, integral.
A imprensa soube do fato e foi a ele, perguntando se o soldo que recebia como general não dava para pagar a faculdade. A resposta veio rápida: “Até que dava, mas com certo sacrifício”.