No set de sua nova série em formato de sitcom para o Multishow, Dra. Darci, durante o ensaio, o ator Tom Cavalcante não para. Mesmo quando não está em cena, observa tudo, dá palpites e sugestões, brinca com os colegas e o diretor, Marcio Trigo, e ainda improvisa e revê piadas ali mesmo, na hora, todas bem factuais. “E se a gente colocar aquela frase da (ministra) Cármen Lúcia?”, questiona ao passar uma cena.
Em Dra. Darci, Tom Cavalcante vive um terapeuta, pai de família, que está desempregado. Ele então consegue um trabalho de conselheiro num programa de rádio que faz grande sucesso. O problema é que, por conta do seu nome dúbio, os ouvintes acreditam que Darci é, na verdade, uma mulher. Quando o programa começa a ser transmitido em vídeo pela internet, o personagem precisa sustentar a mentira, e passa a se vestir como a Doutora Darci.
“A série fala da crise. Partimos do ponto que ele está desempregado e precisa encontrar uma forma de se sustentar”, diz Tom em conversa nos bastidores de Dra. Darci, em São Paulo. A série, que terá 20 episódios, exibidos de segunda a sexta-feira no Multishow, foi gravada durante cerca de quatro meses na capital paulista, onde é também ambientada. Já é o seu terceiro programa no canal pago, depois da sitcom Partiu Shopping e de Multi Tom, que teve duas temporadas, com mescla de talk-show e variedades.
A esposa do comediante, Patricia, produz a série, por meio da Formata, produtora da qual é sócia, e Tom escreve o texto, com um time de roteiristas. O roteiro, porém, é mudado a todo o momento e a finalização vem apenas com os atores em cena. “Se nós, os produtores ou o diretor percebemos que alguma coisa não está funcionando, temos a liberdade de mudar, mesmo quando já estamos gravando”, explica o ator, que no dia anterior à gravação havia ficado acordado até duas da manhã revisando o roteiro. “Pedimos desculpas para a plateia que está aqui e mudamos. O importante é o resultado final para as pessoas que estão em casa, que esperam o nosso melhor.”
Muitas dessas modificações são para incluir piadas atuais, de acontecimentos políticos e sociais ocorridos no período de gravações. “Sempre trabalhamos com o factual”, afirma. Para ele, as alfinetadas políticas são importantes. “A gente vem caminhando nessa nota de um acorde só. O mundo evoluindo lá fora e a gente andando para trás.” A situação de crise é evidenciada na série também pela mulher de Darci, Cíntia, vivida por Fabiana Karla, uma professora da rede pública que fica viciada em remédios por conta do estresse da profissão.
A personagem, junto com os filhos do casal, apoiam Darci na decisão de se travestir para manter o emprego na rádio. Com a popularidade, inclusive, a “Doutora” passa a atender pacientes na sua casa. O problema é que ninguém pode descobrir o segredo, nem mesmo o seu sogro, papel de Roberto Guilherme, que desenvolve uma paixonite pela terapeuta. “Tenho uma felicidade enorme de ter formado um grupo diversificado”, comemora Tom. “São três gerações atuando.”
A experiência de Tom com o formato sitcom já é longa. Um dos seus personagens mais famosos, Ribamar, ganhou fama no Sai de Baixo, da Globo, entre 1996 e 99. “A sitcom tem uma vida longa e perene para o humor, vai sempre funcionar”, analisa o ator, que acredita que a chave para o sucesso do formato é fazer com que o público se veja representado na telinha. “E tenho um certo domínio nisso. Foram quatro anos vivenciando intensamente a direção de Daniel Filho, Zé Wilker e Dennis Carvalho”, relembra
Atuando nas quatro linhas, além do programa na TV, Tom lançou no ano passado seu filme Os Parças e segue com sua turnê de stand-up pelo País.