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Tom Cruise afunda imagem como múmia sem brilho

Luiz Carlos Merten

Existem os universos DC e Marvel, a Warner iniciou com Kong – A Ilha da Caveira uma série de monstros que deve prosseguir com Godzilla e a Universal também tem os seus “deuses e monstros”. A nova versão de A Múmia, que estreou na quinta-feira, 8, em 1.150 salas do País – só para efeito de comparação, Velozes e Furiosos 8 entrou em mais de 1.250 -, inaugura uma nova franquia. Dark Universe, Universo Escuro (ou Sombrio). A Universal revisita seus clássicos de terror dos anos 1930 e 40. O próximo da série – em 2019 – será A Noiva de Frankenstein.

A Múmia! E com Tom Cruise – calma, ele não faz o papel título, mas isso você sabe. Desde a pioneira versão de Karl Freund, com Boris Karloff, de 1932, o cinema tem recorrido ao tema sinistro da múmia que, graças a uma maldição, desperta do seu sono secular para deixar um rastro de destruição e morte. Até o Brasil entrou na dança e Ivan Cardoso, mestre do terrir (terror com riso), deu sua contribuição ao gênero com o paródico O Segredo da Múmia, de 1982, em que Wilson Grey estava particularmente hilário.

No fim da década seguinte, em 1999, a múmia cruzou com Brendan Fraser, na pele de um aventureiro à Indiana Jones, e o diretor Stephen Sommer iniciou sua série de ação e terror hi-tech. A nova Múmia, até por ser o astro Cruise seu chamariz de público, assume contornos de Missão Impossível. O que é, o que é? Um filme de ação, de terror, um filme de efeitos. Mais surpreendente que tudo, um filme de amor.

Cruise faz um soldado que, na Guerra do Iraque, dedica-se com o parceiro a roubar antiguidades, encoberto pela atividade de radicais muçulmanos que também caçam essas antiguidades – para destruir. Aventureiro, canalha, egotista, Morton (é seu nome) rouba mapa de uma cientista e chega a esse sítio da antiga Mesopotâmia – a 1.600 km do Egito – e encontra o sarcófago com a múmia.

A essa altura, o espectador já sabe – graças à revelação do ‘mad scientist’, o cientista maluco Russell Crowe – qual é o egredo mais bem guardado da Antiguidade. A múmia é de uma mulher, Ahmanet, princesa egípcia que, obcecada pelo poder, fez um pacto com Set, o deus da morte, e matou o pai faraó. Mais que uma tumba, o sarcófago é uma prisão da qual Ahmanet será libertada por Morton, que vira seu prometido. Não é com ela, porém, a love story.

Morton, que nunca prestou, tem aí dentro um coração – é um bom homem -, como lhe diz, apontando para seu peito, a cientista, dra. Jenny. Tão bom que se apaixona de verdade por Jenny. Por ela, se sacrifica, e redime de uma vida sem amor. Tocante! Tudo isso vem numa narrativa de menos de duas horas – 1h50 -, que tiroteia para todo o lado, como se o estúdio e o diretor (Alex Kurtzman) não soubessem direito o tipo de filme que estão fazendo para atrair o público jovem e estivessem usando o relato para experimentar.

Como Cruise virou um astro de ação, que não erra – suas bilheterias são infalíveis -, o próprio Tom, para se assegurar do êxito, trouxe um homem de confiança a bordo (o corroteirista Christopher McQuarrie) para manter o filme formatado para ele. O caráter ‘vintage’ de A Múmia inclui fórmulas já testadas (influências? Plágios?) de filmes tão distintos quanto Missão Impossível e Um Lobisomem Americano em Londres.

Justamente Londres – a capital inglesa fornece boa parte do cenário de A Múmia, quando a aventura está no deserto, da mesma forma que Paris fornece a paisagem para o novo Missão Impossível, atualmente em produção. Por se tratar de um filme de amor, e colocar Cruise no centro de um triângulo, as mulheres ocupam o holofote. A argelina Sofia Boutella, de Kingsman – Serviço Secreto e Star Trek – Sem Fronteiras, faz uma Ahmanet intensa, consumida pelo desejo e/ou pelo ódio, e Annabelle Wallace, do terror Annabelle, é Jenny.

A má notícia, e vamos logo a ela, é que, a despeito da forma como Cruise administra sua imagem, é que A Múmia pode até faturar o esperado, mas, em todo o mundo, tem provocado, mais que clamor, o furor da crítica Deve ser – e é – o pior filme de Cruise, meio sem pé nem cabeça, evoluindo num tobogã de emoções (explosões, acidente de avião, perseguição de carro, mortos vivos, tempestades no deserto, toneladas de efeitos, etc., etc.) que não deixa tempo ao público para pensar, exceto nos momentos em que Russell Crowe, meio Marlon Brando (de gordo), questiona-se sobre o significado do mal – e o personagem dele, nada sutilmente, chama-se Dr. Jekyll.

Ao contrário das mulheres, ótimas, não vale muito a pena perder tempo com o astro de Gladiador. Brando, para continuar na comparação, roubava a cena, o que não é agora o caso de Crowe, que merece ser creditado entre as apostas que não deram muito certo na produção. Em defesa do diretor Kurtzman, que foi roteirista de Missão Impossível 3, Transformers – A Vingança dos Derrotados e Star Trek – Além da Escuridão, pode-se acrescentar que, em sua mais conhecida experiência como diretor antes de A Múmia -, Bem-Vindo à Vida, com Chris Pine, Elizabeth Banks e Michelle Pfeiffer, ele já se interrogou sobre o significado da vida e da morte, o que poderia conferir certa aura autoral ao novo filme. Nem brinquem com isso.

O tema da monstruosidade que atravessa A Múmia é coerente com a proposta de um universo escuro. Só que o filme deixa muito as desejar. A título de conclusão, o repórter tem de admitir – já está louco para ver Javier Bardem em A Noiva de Frankenstein. Ele fará o monstro, claro. Quem será sua Elsa Lanchester, a noiva de Boris Karloff no clássico de James Whale? Daqui a dois anos, num cinema perto de você. O motivo da curiosidade é o mais direto possível. Pior que essa Múmia não há de ser. A nova série da Universal só tende a melhorar.

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