Notibras

Tombini advertiu, e o tombo de Abdon no BRB foi bem grande…

Quando venceu as eleições para o Palácio do Buriti em 2010, o governador que agora se despede cabisbaixo, com uma administração pífia, se imaginava um Duarte Coelho da modernidade contemplado com uma capitania hereditária. Não bastasse isso, se fez feitor, transformando Brasília numa imensa senzala ocupada por cidadãos pisoteados por um fracassado ateu que se acreditava onipotente.

Agnelo Queiroz desejou abraçar o mundo com as mãos. Inventou projetos que não saíram do papel, mas que tirou papéis dos cofres públicos. Cercou-se de gente tecnicamente incapaz e de políticos com a ficha mais suja do que pau de galinheiro, para usar uma expressão popular. E chegou mesmo a sonhar em fazer do Banco de Brasília seu caixa particular, de onde poderia, em meio a muitas mazelas, sacar a seu bel prazer.

Para realizar o sonho de colocar o BRB no bolso, Agnelo Queiroz teve a ousadia de indicar o seu apadrinhado Abdon Henrique para o ambicionado posto de presidente do banco. Sem medir consequências, o governador encaminhou o nome à consideração da Câmara Legislativa. E os 24 deputados distritais, acostumados a um ‘Sim, senhor!’, como quem usa focinheira, não opuseram quaisquer resistências.

Mas como presidir um banco público não é o mesmo que arrecadar dinheiro para campanha política, instalar um café árido como uma rocha do cerrado, vender para amigos a preço de banana terras caras que pertencem ao povo, ou mesmo tentar organizar micro e pequenas empresas, Agnelo, os deputados e Abdon Henrique, deram com os burros n’água.

O natimorto projeto de Agnelo Queiroz para colocar um ficha-suja (no SPC) na cadeira mais alta do Banco de Brasília fez soar a campainha do Banco Central. De pronto, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, advertiu o governador. Deu um telefonema e foi categórico. Agnelo não poderia insistir com Abdon, porque o BC não daria aval à indicação. O governador desdenhou Tombini, brigou e perdeu; Abdon viu sua canoa fazer água; e na sequência, os deputados distritais ficaram desmoralizados.

Apesar desse desfecho desconcertante, que deveria ficar registrado nos anais da Câmara Legislativa não fosse a vergonha que se apoderou dos deputados, o mesmo enredo parece estar pronto a ser reprisado.

Agora o que se ouve no mercado financeiro é que o eleito governador Rodrigo Rollemberg estaria insistindo em entregar o comando do BRB a Vasco Cunha Gonçalves. Trata-se de um exemplar servidor de carreira da própria instituição, mas que tem sua ficha funcional manchada por um prejuízo superior a 5 milhões de reais causado ao Fundo de Pensão Regius, consequência de uma descabida operação financeira.

Analistas do mercado financeiro avaliam que essa anotação, que corresponde a uma repreensão enérgica, não condiz com o currículo de alguém à altura de dirigir um banco – muito menos um banco público, rentável e com grandes perspectivas de crescimento, como é o BRB.

Há dois dias correu a notícia de que Rollemberg desistira da nomeação de Vasco. Mas foi só a informação chegar ao Rio de Janeiro, onde goza férias o operador financeiro Ricardo Leal, para que todo o processo de escolha do novo presidente do Banco de Brasília voltasse à estaca zero.

Vasco é afilhado de Ricardo. E Ricardo é amigo de infância de Rollemberg.  Mas como nem toda amizade é sinônimo de sucesso, teme-se pelo pior. Na dúvida, Tombini já anotou na agenda do seu celular o telefone de Rollemberg. Quem tem acompanhado a sucessão no BRB costuma lembrar que errar é da natureza humana, mas insistir no erro, é burrice. E levar um tombo em começo de governo, além de correr o risco de ser pisoteado por uma Câmara Legislativa que se anuncia rebelde, pode provocar fraturas irremediáveis.

Publicado originalmente em naredecomjoseseabra.com.br

Sair da versão mobile