Desde o primeiro domingo do ano, quando foi realizado um seminário sobre os objetivos do governo e foram levantados os problemas da capital, a equipe do secretário de Mobilidade, Carlos Tomé, trabalha de forma intensa. Agora, o titular da pasta explica as prioridades para a área — uma das que mais afligem o DF — nos 120 dias iniciais de gestão, contados a partir de 1º de janeiro. Elucida, ainda, ações como a adoção do bilhete único.
“Começamos um trabalho de base para fazer as modificações necessárias e merecidas em relação à mobilidade do Distrito Federal”, conta Tomé em entrevista à Agência Brasília. “A primeira medida nestes 120 dias é uma reforma institucional no setor — Secretaria de Mobilidade, DFTrans (Transporte Urbano do Distrito Federal), TCB (Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília) e Metrô (Companhia do Metropolitano do DF). Vamos readequar o papel de cada uma dessas instâncias.”
Além dessa definição de atribuições, outros três pontos estão sendo desenvolvidos por uma equipe de trabalho formada na reunião de 4 de janeiro. O grupo inclui os órgãos citados por Tomé, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) e a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão.
Um desses pontos é o início dos estudos para aumentar a eficiência operacional do sistema de mobilidade. Hoje, o Metrô e cada uma das cinco empresas de ônibus que atuam no DF têm um centro de comando operacional com informações sobre a respectiva frota. “É preciso criar um controle central que permita o funcionamento articulado de todos os operadores”, diz o secretário. Segundo ele, o monitoramento será feito pelo governo em tempo real.
Com isso, de acordo com o gestor, será possível trabalhar em três dimensões de integração: a física, que ofereça ao passageiro infraestrutura adequada nas operações de transbordo; a operacional, que possibilite descer de um carro para entrar em outro num curto espaço de tempo; e a tarifária, relacionada ao bilhete único. “A pessoa vai pagar uma passagem apenas e fazer o trajeto todo.”
Outro item elencado pelo grupo de trabalho diz respeito ao início da licitação de obras com recursos assegurados. Entre elas estão a implantação do corredor de transporte coletivo norte, ligando o Plano Piloto a Sobradinho e a Planaltina, e a conclusão das estações de metrô na Asa Sul e na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), além da extensão de linhas para Asa Norte, Samambaia e Ceilândia.
O último ponto é começar os projetos que não foram feitos. São exemplos a Via Interbairros — irá do Setor Policial Sul a Samambaia, passando pelo Guará, por Águas Claras e por Taguatinga — e o corredor de transporte coletivo com veículos leves sobre trilhos (VLTs)— contemplará Sol Nascente, Ceilândia, Taguatinga e Riacho Fundo I, via avenidas Hélio Prates, comerciais Norte e Sul e Pistão Sul.
As ações de mobilidade para os primeiros quatro meses de governo incluem ainda melhorias em calçadas e ciclovias, identificação de locais que exigem a ampliação da malha para bicicletas, e a volta do programa Paz no Trânsito, que está no âmbito do programa Pacto pela Vida e funciona, basicamente, por meio de campanhas educativas. “O Paz no Trânsito resultou no respeito à faixa de pedestres, por exemplo; muito disso, a gente vem perdendo com o tempo”, diz Carlos Tomé, que considera o trânsito de Brasília muito violento.
Secretaria de Mobilidade tem definido atividades a serem pensadas em longo, médio e curto prazos. “Há medidas estruturantes, que devem ser tomadas de maneira responsável. Brasília não merece improvisos nem medidas apressadas, que não resolvem os problemas de modo definitivo. O trabalho começa agora para dar frutos o mais rápido possível”, ressalta o chefe da pasta.
Na opinião do secretário, é preciso romper ou modificar o padrão de ocupação do solo de Brasília, descentralizando atividades econômicas, de modo que as pessoas que moram nas regiões administrativas possam nelas trabalhar. “Em muitos casos, a solução para a mobilidade não é fazer com que as pessoas se desloquem para mais longe em menos tempo; é diminuir a necessidade de deslocamento.” Essa ordem de problemas exige solução de longo prazo, uma vez que mudanças na dinâmica econômica de uma cidade requerem até aproximadamente uma década, observa Tomé.
“Partindo do pressuposto de que esse padrão de ocupação territorial não se resolve no médio nem no curto prazo, as pessoas precisam ter facilidade de se deslocar dentro da dinâmica já instalada”, analisa. As soluções de quatro a seis anos são as de médio prazo, como a construção de corredores de transporte. São exemplos os corredores sul e norte, em que foi definida a tecnologia BRT (do inglês bus rapid transit – transporte rápido por ônibus), e os corredores da EPTG e da Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), em que é preciso definir ou redefinir a tecnologia de engenharia a ser aplicada.
Em curto prazo, estão medidas de um a dois anos, que independem de grandes obras e visam aprimorar instrumentos existentes, como o BRT Sul. “É necessário incorporá-lo ao sistema de mobilidade de maneira racional, ou seja, deve haver um sistema de gestão e de operação das linhas associado à obra de engenharia”, defende.
Carlos Tomé afirmou que a posição do Governo do Distrito Federal será de comprometimento quanto às ligações ferroviárias, como o trem metropolitano Brasília-Luziânia, o trem de média velocidade Brasília-Goiânia e o aproveitamento da infraestrutura da futura ferrovia Brasília-Goiânia para a criação de uma linha de trem regional entre Águas Lindas (GO), Ceilândia, Taguatinga, Cidade Estrutural, Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e rodoferroviária. As questões demandam articulação com Goiás e a União.
“Vamos assumir a liderança nos assuntos que dizem respeito ao DF, porque é de total interesse do governo privilegiar as soluções ferroviárias para o transporte que liga o DF às cidades mais populosas da área metropolitana, os municípios adjacentes”, afirma.
Samira Pádua