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O valor do essencial

Trabalhador precisa de 6,5 mil no bolso, mas Lula dá mínimo de 1.518

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Autor/Imagem:
Dora Andrade - Foto de Arquivo

Imagine o cenário de uma família brasileira composta por cinco pessoas, em que cada necessidade básica – moradia, alimentação, saúde, educação, transporte, vestuário, lazer e previdência – deve ser atendida com dignidade. O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) estima que, para garantir essa dignidade, o salário mínimo deveria ser de aproximadamente R$ 6.558,41. Um valor que está muito além do que se pratica atualmente no Brasil.

Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar um decreto estabelecendo o novo salário mínimo em R$ 1.518, a partir de 1º de janeiro de 2025. Este aumento, apesar de representar um avanço em relação aos R$ 1.412 atuais, ainda está distante do ideal apontado pelo Dieese. O assalariado fica com uma fatia de bolo mofo, sem sequer sentir o cheiro da cereja. E o poder de compra das famílias brasileiras, consumido pela inflação, escorre pelo ralo..

É verdade que a Lei de Diretrizes Orçamentárias previa um aumento para R$ 1.502. Porém, o Palácio do Planalto deve avançar com 16 reais ((o equivalente a dez pães a mais durante todo o mês). Isso mesmo que o Orçamento da União, ainda em tramitação no Congresso Nacional, só deva ser votado em fevereiro. O gesto presidencial evidencia um suposto desafio de equilibrar as demandas sociais com as limitações fiscais; entretanto, não impõe, por exemplo, limites aos cartões corporativos – aquele pedacinho de plástico que permite gastos nababos a figuras da República, pagos, claro, com o dinheiro do contribuinte.

O que esse cenário nos diz? Ele nos convida a refletir sobre a disparidade entre o que as famílias precisam para viver com dignidade e o que lhes é oferecido como base. O salário mínimo, além de um número, é um termômetro de prioridades e políticas públicas. Ele é o ponto de partida para a sobrevivência de milhões de brasileiros, mas deveria ser, antes de tudo, o ponto de chegada para um padrão de vida justo.

Afinal, de que vale o apregoado (mas não comprovado) crescimento econômico, se ele não se traduz em melhores condições para quem mais precisa? É urgente que o debate sobre o salário mínimo vá além do embate político e alcance a essência do que significa viver com dignidade no Brasil. Até porque, saco vazio não para em pé. E o povo, faminto, pode virar fantasma e sair pelas ruas feito zumbis atormentando quem promete colheita de frutos mas só oferece bicho de goiaba.

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Dora Andrade é Editora de Economia de Notibras

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