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Trabalhadores promovem ato e mandam Nissan abrir o olho com direito trabalhista

Akemi Nitahara

Representantes de entidades sindicais fizeram um ato nesta quinta (18) em frente à sede do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 para denunciar práticas antissindicais cometidas pela montadora de carros Nissan nos Estados Unidos. A empresa é a principal patrocinadora da competição, que começa no dia 5 de agosto. Um grupo de manifestantes foi recebido pelo diretor de Relações Institucionais do comitê, embaixador Agemar Sanctos.

Segundo a denúncia, feita pela United Auto Workers (UAW), entidade sindical americana do setor automobilístico, e a IndustriALL Global Union, que representa 52 milhões de trabalhadores da indústria em 140 países, a fábrica da Nissan em Canton, no Mississipi, tem cerca de 6 mil trabalhadores, sendo que metade deles são terceirizados e temporários. No entanto, eles trabalham exclusivamente para a empresa há vários anos e recebem salários menores do que os dos contratados diretamente, já que não há acordo coletivo.

No Brasil, segundo o coordenador regional para a América Latina e Caribe da IndustriALL Global Union, Marino Vani, a Nissan respeita todos os direitos trabalhistas. Mas o mesmo não ocorre em outras partes do mundo. “O principal [problema] é nos Estados Unidos, porque na verdade os trabalhadores têm dificuldade de implementar e construir um sindicato pela legislação nacional. A empresa se usa dessa legislação e acaba fazendo campanhas antissindicais, ameaçando inclusive sair do país caso os trabalhadores organizem sindicatos.”

Ao contrário do Brasil, onde os trabalhadores podem se associar a um sindicato quando entram em uma empresa, nos Estados Unidos é necessário que 51% dos funcionários queiram a entidade representativa para que ela seja criada.

Segundo Vani, o ato desta quinta-feira não é um protesto contra a realização da Olimpíada no Brasil, mas uma cobrança para que as empresas cumpram o acordo que prevê responsabilidade social e respeito aos trabalhadores em toda a cadeia de fornecedores do evento.

“Não somos contra a Olimpíada, achamos que é um espaço importante para a sociedade, para o mundo. Mas queremos que a Olimpíada seja melhor. Estamos aqui não porque somos contra a Nissan ou queremos combater a Nissan, mas para denunciar, porque dentro dos princípios da Olimpíada, de jogos justos, jogos limpos, temos trabalhadores que estão em situações onde não há contrato coletivo nem sindicatos”, disse o sindicalista.

Sindicatos brasileiros – Entre as entidades brasileiras que apoiaram o ato estão a Força Sindical, Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e União Geral dos Trabalhadores (UGT). O presidente da UGT no Rio de Janeiro, Nilson Costa, explica que é ruim para o evento no Brasil estar associado a uma empresa que tem práticas antissindicais.

“Como a Nissan é uma das patrocinadoras [dos jogos] daqui, estamos fazendo com que o embaixador, com a responsabilidade que tem, chame a Nissan e apresente essa carta a ela com as ações mínimas que eles devem fazer com relação a acabar com essa prática antissindical nos Estados Unidos. Não podemos admitir que uma empresa que venha de fora tente implantar esse tipo de prática aqui.”

O Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 informou que não irá se pronunciar sobre a questão, mas, segundo Vani, a receptividade às demandas foi boa. “O comitê tem essa disponibilidade, porque [a Nissan] é uma empresa que tem trabalhado, tem patrocinado e vai trabalhar durante as Olimpíada.”

Em nota, a Nissan informou que em suas fábricas de todo o mundo a decisão de se unir a um sindicato cabe apenas aos trabalhadores. “Acreditamos que nossos funcionários têm o direito de escolher diretamente seus representantes: duas vezes, em Smyrna, Tennesse, nossos funcionários votaram contra a representação do UAW. Em Canton, Mississippi, nunca houve interesse suficiente para iniciar o processo de votação”.

A Nissan disse ainda que, além de respeitar as leis trabalhistas, “trabalha para garantir que todos os seus funcionários estejam cientes destas leis, entendam seus direitos e tenham plena liberdade para expressar suas opiniões e eleger seus representantes”.

A multinacional também destaca que os funcionários dos Estados Unidos “usufruem de postos com alto nível de segurança e alta faixa salarial”, além de terem “excelentes benefícios, um ambiente de trabalho que ultrapassa os parâmetros definidos pela indústria e um diálogo transparente, baseado em respeito mútuo”.

Agência Brasil

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