Marcelo Lima
Muito antes de sequer ouvir falar dele, o designer francês Pierre Charpin já vivenciava, na prática, o conceito de design no limite da arte. Não, por certo, movido por uma declarada intenção de conceber móveis e objetos únicos. Propor formatos exóticos ou peças com pouca, ou nenhuma vocação funcional. Mas, fundamentalmente, como método.
“Para mim não há diferença entre trabalhar para uma indústria ou para uma galeria”, declara ele, eleito Designer do Ano na última edição da feira francesa Maison & Objet, que a cada semestre seleciona um grande nome da cena contemporânea internacional. Em janeiro, profissionais voltados para o design de produtos. Em setembro, para o de interiores.
Famoso pelo componente poético e pelo aspecto escultural de suas criações – sejam elas cadeiras, mesas, poltronas ou simples pratos – nada parece escapar ao olhar investigativo de Charpin. À sua necessidade permanente de vasculhar os materiais até que cada objeto ganhe corpo e forma.
Filho de escultor e graduado pela Escola de Belas Artes de Bourges, cidade na região central da França, Charpin começou a concentrar sua atenção em móveis e objetos a partir da década de 1990. Depois de trabalhar em Milão no estúdio de George Sowden (um dos fundadores do grupo Memphis), entre 1993 e 1994, ele retorna a Paris até que, em 1998, lança seu primeiro best seller, a poltrona Slice, pela Brunati.
Na mesma época, produz uma série de objetos de vidro e, dois anos mais tarde, uma linha de cerâmicas. Em 2011, retorna ao vidro, com uma garrafa desenhada para a Cristalleries Saint-Louis e, desde então, nunca mais parou. Post Design, Zanotta, Montina, Venini e Alessi são algumas das empresas que já contam com criações suas, mas novos convites não param de chegar.
Explorador nato, ele é também convidado assíduo para palestras em centros de pesquisas de materiais, muito embora a ele interesse, primordialmente, entender a articulação entre cada peça e seu ambiente. “Um objeto não existe por si só.Ele só faz sentido quando se torna parte da paisagem que habitamos”, costuma ser uma de suas máximas mais frequentes.
Em meio a frequentes temporadas de trabalho na Itália, Charpin mantém seu ateliê em Ivry-sur-Seine, onde materializa seu processo de criação, em meio a uma profusão de materiais. Ao contrário do que acontece em relação a seu desenho. Área na qual o designer se mostra muito mais comedido, preferindo, não raro, lançar mão de um único elemento: uma linha, uma superfície em torno da qual ele investiga todas as possibilidades de criação: altura, espessura, diâmetro, cor, densidade, transparência, luminosidade.
Como acontece em uma de suas últimas criações, a luminária PC Lamp desenvolvida em parceria com o britânico Sebastian Wrong e apresentada em janeiro durante a Maison & Objet, em Paris. Um produto quase nostálgico, aparentemente simples, mas que precisou de três anos para ser desenvolvido, devido à sua complexa articulação e tecnologia praticamente invisível, presentes em suas três versões: piso, mesa e teto.
Além de presente em espaço próprio – concedido pela Maison & Objet aos profissionais agraciados com o título de designer do ano – o traço versátil de Charpin pôde ser conferido no espaço da galeria francesa Kreo, onde ele apresentou uma nova coleção de objetos, no da Manufacture Nationale de Sèvres, para a qual desenhou uma linha de vasos, além no da fabricante de móveis francesa Ligne Roset, onde compareceu com uma série de pufes.
“Com uma vitalidade única, Pierre Charpin mantém sua atenção voltada para artes plásticas ao mesmo tempo que registra seu estilo único em cada peça de design que cria. Uma simplicidade formal suavizada por linhas arredondadas e escolhas cromáticas bastante precisa. Sempre essenciais e elegantes, suas criações instantaneamente provocam uma reação emocional e isso não é pouca coisa”, conforme sintetizou a curadora Elizabeth Leriche, do conselho consultivo da Maison francesa, ao definir a indicação do designer.