Fevereiro transcorre em todo o mundo como o mês de combate ao câncer. E o dia 4 passado, especialmente, tem como objetivo conscientizar a população no que diz respeito aos hábitos saudáveis e diagnóstico precoce. O que muita gente ainda não sabe é que o coração é um dos órgãos que mais sofre com o tratamento da doença e por isso merece uma atenção especial nesse período.
Estudos mostram que pessoas que passam por um câncer se tornam mais vulneráveis a doenças cardiovasculares, mesmo não tendo um histórico familiar de problemas cardíacos. Nesse momento, a cardiologia e a oncologia devem trabalhar juntas. O conhecimento e a preocupação em torno dos efeitos adversos cresceram nos últimos anos, a ponto de surgir a subespecialidade médica Cardio-Oncologia.
“Algumas medicações e métodos usados no tratamento, como os quimioterápicos e a radioterapia, podem causar insuficiência cardíaca, arritmias, hipertensão arterial, entre outros problemas”, relata o oncologista Marcos França. Logo, o cuidado com o coração deve ser redobrado durante o tratamento oncológico.
“O acompanhamento dos pacientes oncológicos é constante. Em contato com os oncologistas responsáveis, monitoramos todas as taxas e, se necessário, solicitamos a troca de algum medicamento, quando é possível. O paciente não deve ser tratado com uma dose leve demais de quimioterápico, porque é preciso bater forte no tumor. Nem pode receber uma quantidade elevada demais, a ponto de sofrer um dano cardíaco”, explica.
Procedimentos comuns na cardiologia, como o cateterismo e a angioplastia, podem e devem ser realizados em pacientes com câncer. Porém há que se ter alguns cuidados específicos. “Antes de fazer esses procedimentos, deve ser avaliada a predisposição a trombose, o nível de plaquetas no sangue e o potencial de interação medicamentosa. Tudo deve ser bem individualizado, inclusive a escolha de dispositivos usados no processo”, afirma por sua vez Thomas Osterne, cardiologista hemodinamicista.
Avanços
A tecnologia e os avanços da medicina já permitem que pacientes com tumores tenham disponíveis tratamentos que diminuam os efeitos colaterais, potencializem os resultados e agridam menos os outros órgãos, entre eles o coração. A Neurorradiologia Intervencionista atua no tratamento oncológico, oferecendo a técnica de embolização tumoral na face e no cérebro, para os pacientes acometidos pela doença nas áreas da cabeça e pescoço.
Eduardo Waihrich, neurorradiologista, explica que a embolização funciona como uma espécie de cateterismo, onde um cateter é introduzido na artéria femoral e conduzido até as artérias do pescoço. Lá, um microcateter injeta o quimioterápico diretamente na circulação do tumor. “Isso é uma vantagem, já que possibilita uma dosagem menor da substância, além de não ter tanto impacto no sistema nervoso central. Trata-se de um método minimamente invasivo, que é uma tendência geral na medicina”, relata.
A embolização atua em duas frentes. Uma é pré-operatória e visa ajudar a revascularização, diminuição de perda de sangue e tempo de cirurgia, o que diminui o tempo de exposição e o risco de infecções durante a cirurgia para retirada de tumores. A segunda é paliativa, realizada em pessoas que não têm condições de passar por um procedimento cirúrgico. “Com isso, nós conseguimos retardar a evolução da doença e aumentar a sobrevida do paciente”, garante o médico.