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Tribunal de Contas vira balcão de negócios eleitoreiros de Agnelo

Quem ganhou dinheiro com a Cidade Digital, mais uma ilusão que o governador Agnelo Queiroz (PT) ergueu como bandeira eleitoral e vendeu à sociedade e a empresários, se deu bem. Quem investiu, pagou consultoria, pode até deixar por isso mesmo. O assunto, porém, não morre aí. É que o Ministério Pùblico e a Polícia Federal estão dispostos a investigar toda a artimanha existente por trás de tudo isso.

Um relatório de posse do MP e da PF indica que o Parque Tecnológico Cidade Digital não prosperou em razão da mistura de incompetência e interesses de uma espécie de famiglia que tem raízes no Palácio do Buriti. As ramificações passam pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal e Setor Comercial Norte, onde escritórios de advogados se arvoram em fazer brotar dinheiro da terra seca do cerrado.

O projeto original do Parque Tecnológico, esboçado por profissionais sérios e assim visto por investidores nacionais e internacionais, atraiu o interesse de diferentes grupos empresariais. Aos poucos, porém, quem estava disposto a aplicar na iniciativa, respeitadas as práticas sérias do modelo capitalista, começou a ser dissuadido a desistir. E milhões de dólares limpos deram as costas a Brasília.

Dois personagens que mais tiveram influência no processo de esvaziamento da Cidade Digital são pessoas próximas a Agnelo Queiroz. De um lado, Luiz Carlos Alcoforado, advogado do governador. De outro, Paulo Tadeu, o ‘Menino de Ouro’ de Sobradinho, ex-deputado federal, ex-secretário de Governo e hoje conselheiro do Tribunal de Contas.

Enquanto Alcoforado promovia em conversas informais o fracasso do projeto, Paulo Tadeu agia nos bastidores, articulando ações para beneficiar empresas associadas a seus prepostos. E a Cidade Digital, que geraria empregos e impostos, se transformou em um grande laranjal para beneficiar um grupo seleto de amigos de Agnelo Queiroz.

Alcoforado tentou amarrar tudo com um investidor espanhol. Chegou mesmo a assinar um contrato de consultoria com Javier Mateo, presidente da Gaia New Technologies. Pelo trabalho oferecido, saíram cerca de 40 mil euros da Espanha, o equivalente a 120 mil reais, a título de pagamento dos serviços ofertados pelo advogado.

Enquanto isso, os tentáculos do conselheiro Paulo Tadeu se movimentavam em todas as direções. Puxou gente do Paraná. E a Construtora Cathedral se associou à Gaia. A parte do ‘Menino de Ouro’ estava assegurada numa suposta divisão do bolo. E para que Alcoforado e Agnelo não ficassem para trás, buscou-se em Anápolis, Goiás, a ANCC Comunicações para representar os interesses do advogado e do governador.

A relação umbilical de Paulo Tadeu com Agnelo Queiroz, Luiz Carlos Alcoforado e o segmento das indústrias da construção civil e de software foi confiada a Lúcio Flávio, irmão do conselheiro e sócio informal de João Teodoro, presidente do Conselho Federal dos Corretores de Imóveis.Teodoro representa os interesses de Mateo no Brasil.

Para atuar com desenvoltura, Lúcio Flávio ganhou uma sala na sede do Cofeci, no Conic , ponto de convergência de muita coisa ruim no Setor de Diversões Sul de Brasília. Quando o movimento começava a levantar suspeitas, ele descia um andar e se acomodava em uma outra sala. Mas o teto, como as paredes, tem ouvidos. E muito do que se conversava, vazava.

Negócios sórdidos fizeram aflorar dinheiro que passou depois por algumas lavanderias. A história é longa, complexa. Envolve mais gente do Tribunal de Contas do Distrito Federal, do gabinete de Agnelo Queiroz e da antiga direção da Terracap.  O Banco do Brasil estava prestes a colocar a mão na cumbuca, mas recuou. O Banco de Brasília, onde o governador manda, ficou a ver navios. E Paulo Tadeu e Luiz Carlos Alcoforado, como o próprio governador, acreditam que sairão ilesos de tudo isso.

José Seabra

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