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Triplo 6/4 de Guga em André Agassi, que fez dele o 1º, lembrado quinze anos depois

Felipe Rosa Mendes

Foi há exatos 15 anos que Gustavo Kuerten desbravou um território desconhecido pelos tenistas brasileiros. No dia 4 de dezembro de 2000, o catarinense apareceu na sonhada liderança do ranking da ATP, a Associação dos Tenistas Profissionais, um feito para poucos. A conquista inédita, celebrada até hoje pelos fãs, teve sabor ainda mais doce para o atleta de Florianópolis por coroar uma grande temporada, que culminou no triunfo na restrita Masters Cup de Lisboa, onde Guga desbancou lendas como Pete Sampras e Andre Agassi.

Ao derrotar Agassi em uma final melhor de cinco sets, por triplo 6/4, o catarinense somou pontos suficientes no ranking para desbancar os rivais e terminar a temporada como o novo número 1 do mundo, posição que frequentou por 43 semanas no circuito. Passados 15 anos da conquista, Guga se lembra da partida histórica como se fosse ontem. Principalmente da sua reação ao fim do jogo. “Eu estava ansioso pelo momento de abraçar todo mundo”, diz o agora ex-tenista, em entrevista à Agência Estado.

Toda a expectativa represada ao longo da semana de competição, que reúne os oito melhores tenistas da temporada, foi resumida neste ato aparentemente banal ao fim da grande batalha. “Lembro do abraço no final do jogo. É uma lembrança afetiva, que é o que fica gravado para sempre no coração”.

E não faltou abraços em Guga assim que ele converteu o match point na quadra dura de Lisboa depois de um erro de Agassi na devolução do seu saque. “Lembro bem da mãe me mostrando da arquibancada que só faltava um ponto”. Com a taça nas mãos, ele se dirigiu aos familiares, finalmente aliviados, e foi dar o aguardado abraço na “mãe número 1 do mundo”, como ele mesmo definiu com o microfone nas mãos durante a cerimônia de premiação.

Além das emoções, que afloram com facilidade no rosto do ex-tenista, Guga se recorda com facilidade do caminho que percorreu até o título em Lisboa. “Foram jogos muitos especiais”, disse. E foram mesmo, a começar curiosamente pela derrota para o próprio Agassi, por 2 sets a 1 – somente a final foi disputada em cinco sets.

Insatisfeito com a performance na estreia, Guga compensou nos dois jogos seguintes, pela fase de grupos. Derrotou o sueco Magnus Norman e o russo Yevgeny Kafelnikov por 2 a 0, classificando-se para a semifinal. Foi então que se deparou com seu primeiro grande desafio: superar Pete Sampras na quadra dura e indoor, tudo que favorece o estilo do norte-americano.

Acostumado à lentidão do saibro, jogado principalmente em quadra descoberta, Guga venceu o então número 3 do mundo de virada, por 2 sets a 1. Batida a lenda, era a vez de superar os erros da estreia e a pressão de virar número 1 para vencer Agassi. O placar de 3 sets a 0 não deixou dúvidas sobre a superioridade do brasileiro.

“Era a primeira vez que eu ganhava um torneio como esse, que reúne os oito melhores tenistas do mundo, e com uma peculiaridade: vencendo Sampras e Agassi, na mesma competição”, destacou Guga, ainda espantado pelo feito obtido em 2000.

Por tudo isso, o catarinense encara o título da Masters Cup, que lhe rendeu o topo do ranking, como sua maior conquista. Sem esquecer, contudo, da inesperada conquista de Roland Garros em 1997, quando apareceu para o mundo do tênis. “Vencer Roland Garros, em 1997, foi a minha maior façanha e a Masters Cup de Lisboa foi a minha maior conquista como jogador”, comparou.

A conquista do topo coroou uma grande temporada, realçada pelo segundo título em Roland Garros. Houve ainda outros três títulos em 2000, em Santiago, Indianápolis e em Hamburgo, então sede de um dos Masters 1000 do circuito. Mais que selar um ano brilhante, o título em Lisboa consolidou a carreira do brasileiro.

A sequência de conquistas, incluindo a chegada ao topo, garantiu ao tenista maior reconhecimento e apoio de patrocinadores. “Buscamos sempre parcerias duradouras e relevantes. Atualmente, nós conseguimos trabalhar nessa mesma linha, com muito sucesso. Eu vejo que a importância das decisões tomadas naquela época tem impacto até hoje”.

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