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Trocando em miúdos, apedeuta deve ir para Minas

Carioca, suburbano, flamenguista, jornalista e realizado por ter amigos deputados, senadores, ministros de tribunais superiores, coronéis, almirantes e até generais. Coisas dos subúrbios do Rio de Janeiro, onde a maioria do povo se sente feliz com o crescimento profissional e social dos vizinhos. Não consegui ser pedreiro, carpinteiro, lanterneiro, pintor de parede, pagodeiro, jogador de futebol, muito menos garoto de aluguel. Tentei de tudo. Tanto que, recentemente, me aventurei na carreira de velho de programa, mas, por absoluta falta de instrumental, fali antes mesmo do registro do material no Cadastro Único, cujas iniciais formam o submundo sujo e fedorento do que resta a velhos aventureiros e despudorados como eu e aquele que derrotamos em 2022.

Realmente decepcionante, a primeira cliente acionou a Vara de Execuções e perdi a questão tão logo fui suscitado a mostrar a aparência do morto. Faltou-me argumento no momento da prova dos nove. Togada da cabeça aos pés, a juíza, na verdade uma mulher trans, não perdoou a fake news do meu cartão colorido de apresentação. Tudo batia com a descrição in loco. Nome, endereço, idade, altura, cútis e as urinadas intermediárias estavam em conformidade com as argumentações da defesa. O problema era o texto: “Se procuras moleza, levá-la-ei à loucura”. Injusta, mas irrecorrível, a condenação foi imediata: perdi de exibido.

Para o bem de minha reputação, fui reprovado por meio centímetro. Executado, quase perco o que ainda sobrou do tadinho. Embora triste, o fato me obrigou a pensar exclusivamente no jornalismo. Apesar de não ter erudição alguma, me acho razoável no uso das mesóclises e dos factoides midiáticos. Por exemplo, de vez em sempre incorporo o espírito de filósofos nem tão contemporâneos e deito falação sobre frases e pensamentos ocultos. O pensador, ensaísta, filólogo, umbandista e renuncista grego Jânio Quadros é meu preferido. Entre outras coisas, com ele aprendi que não devemos ocupar a cadeira de ninguém antes de autorização formal e registrada da Justiça Eleitoral.

E sabem por quê? Porque “nádegas indevidas se sentaram nela” sem a devida ordem expressa. Faço minhas as palavras de um amigo de infância, que, sem medo de qualquer consequência, me dizia que todas as vezes em que havia sentado foi por vontade própria. Ele também repetia Jânio: “Fi-lo porque qui-lo”. Pois bem, quem senta sabe que tipo de ovos pode amassar. Nunca bebi dessa água e, agora, dificilmente beberei. Apesar da atestada disfunção erétil, gosto mesmo é daquela outra praia localizada quase ao lado da Linha do Equador. Ou seria do Marco Zero? Pouco importa. Importante, é o frescor florestal e a penumbra cavernosa do prazeroso bumba meu boi.

A esta e à cerveja gelada rendo todas as homenagens possíveis e imagináveis. Dependendo da ocasião, obviamente que a ordem pode – e deve – ser invertida. No entanto, cervejísticamente falando, “bebo-a, pois líquido é. Se sólido fosse, comê-la-ia”. Sou bom em língua, mas nunca me arrisquei na variação dos idiomas informais. Embora não seja oxfordiano, arranho no inglês. Passei longe da Sorbonne, mas sou safo no francês. No espanhol, peço um huevo muele e cuepo para tomar uma cueca cola melhor do que os argentinos pedem uma cuchara para comer um chuleta ou um vaso para tomar uns tragos. Também não tenho pudores a respeito do português pouco castiço que utilizo em minhas narrativas.

Frustração só com a ausência do hindu escorreito (hoje é hindi ou híndi) em minha lista idiomática. Por causa dele fui impedido de entrar no Guinness Book de 2022 (fim do fim do mundo) como falador de línguas estranhas. Não falo o hindu com a fluência desejada, mas lembro de algumas expressões que aprendi com os adoradores do príncipe Sidarta Gautama, também conhecido por Sãkyamuni, comumente chamado apenas de Buda ou Buddha. É claro que os neologismos do hindu eu conheci nas comunidades do Rio (gostava mais do termo favela), onde o chefe da casa de saliência chamava os manés de buda moles. Gosto dos meus amigos influentes, mas prefiro a convivência com os do coração. Só não me envolvo com os apedeutas, obtusos e mentecaptos. Para estes, sempre sugiro a amizade com o cramulhão ou o caminho de Gisdifora, com desvio em Beraba, para um encontro de terceiro grau com aquele governador que não gosta de nordestinos.

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