Célebre por seu pouco apreço à verdade, o presidente Donald Trump se contradisse mais uma vez nesta quinta-feira, 3, e mudou a versão sobre o pagamento de US$ 130 mil a uma atriz pornô para comprar seu silêncio sobre um caso extraconjugal que alega ter tido com o atual ocupante da Casa Branca. Há um mês, Trump disse que desconhecia a transação e a origem dos recuros utilizados. Na quinta-feira, 3, ele afirmou que reembolsou o advogado Michael Cohen pelo pagamento de US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels, em pagamentos mensais depois das eleições. A transação ocorreu poucos dias antes da eleição de 2016.
Na segunda-feira, o médico que tratou Trump durante 36 anos revelou que a declaração assinada por ele sobre a saúde de seu cliente durante a campanha eleitoral foi ditada pelo próprio candidato. O texto era carregado de adjetivos e dizia que Trump seria o mais saudável presidente que os EUA já tiveram.
De acordo com levantamento do jornal Washington Post, Trump já realizou 3.000 declarações falsas ou enganosas desde sua posse, há 15 meses, o que dá uma média de 6,5 por dia. No mês passado, o presidente também havia dito que estava satisfeito com o time de advogados que o representam nas investigações sobre interferência da Rússia nas eleições de 2016. Mas na segunda-feira, ele substituiu um deles pelo profissional que defendeu o ex-presidente Bill Clinton durante o processo de impeachment em 1998 e 1999.
A declaração muda totalmente a versão original apresentada por Trump sobre o caso. No dia 5 de abril, ele afirmou que desconhecia o pagamento e não sabia onde Cohen havia obtido os recursos para fazê-lo. No dia 9, o FBI realizou uma operação de busca e apreensão no escritório, na casa e no quarto de hotel do advogado. Entre os documentos levados pelos agentes estavam os registros dos pagamentos a Stormy Daniels.
Ao mudar sua versão, Trump tenta descaracterizar o acordo fechado com a atriz pornô como uma contribuição ilegal de campanha, ainda que ao preço de reconhecer que mentiu há um mês. Um grupo que defende transparência na política ingressou com uma representação na Comissão Federal Eleitoral na qual acusou a campanha do presidente de violar regras sobre financiamento.
“Dinheiro da campanha, ou contribuições de campanha, não teve nenhum papel nessa transação”, declarou Trump no Twitter na manhã desta quinta-feira. Segundo ele, Cohen recebeu reembolsos mensais pelos gastos com Daniels, que se comprometeu a não falar sobre o suposto relacionamento com o presidente. “O acordo foi usado para impedir acusações falsas e extorsivas feitas por ela sobre um caso, apesar de já ter assinado uma carta detalhada admitindo que não houve nenhum caso.”
A versão do reembolso havia sido apresentada na noite de quarta-feira pelo novo advogado de Trump, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, em entrevista à Fox News. “Isso remove a violação de financiamento de campanha”, afirmou. “Algum tempo depois que a campanha havia terminado, eles estabeleceram um reembolso de US$ 35 mil mensais, que saiu da conta pessoal familiar (de Trump).”
Mas o reembolso pode não ter resolvido o problema, disse em entrevista ao Washington Post o diretor do Campaign Legal Center, Lawrence Nobel. Segundo ele, o pagamento a Daniels por Cohen pode ser caracterizado como um empréstimo à campanha de Trump, que deveria ter sido declarado. O critério para definir se o recurso era uma contribuição de campanha é o seu propósito. “Se o objetivo era impedi-la de prejudicar a campanha, então o que você tem é um empréstimo de Cohen à campanha.”
Apesar de insistir que a transação teve caráter privado e não eleitoral, Giuliani acabou reforçando a tese de financiamento de campanha. “Imagina se isso viesse à tona no dia 15 de outubro, no meio do último debate com Hillary Clinton”, afirmou na entrevista à Fox. “Cohen nem perguntou. Cohen fez com que desaparecesse. Ele fez o seu trabalho.”