Os presidentes dos EUA e do Irã promoveram nos últimos dias um dos maiores blefes da história moderna, segundo a inteligência russa. Ao explodir o cérebro das guerrilhas no Oriente Médio e chefe da Quds, Qassim Suleimani, e Abu al-Muhandas, comandante da milícia Hizbullah, Donald Trump teria cumprido uma parte do acordo com Hassan Rouhani. Um míssil americano lançado por um drone comandado do território estadunidense, 12 mil km distante do Iraque onde explodiu o alvo, caiu no lugar certo na hora certa e tirou de circulação dois líderes influentes daquela região.
No mundo inteiro foram estampadas manchetes sensacionalistas sobre a possibilidade de uma Terceira Grande Guerra. Frenesi nas redações. Os russos afirmam que tudo não passou de um plano muito bem arquitetado. Competentes analistas perceberam que algo não estava muito bem explicado. Ainda assim, nosso Itamaraty, sem a mínima serenidade diplomática, distribuiu nota de apoio ao assassinato, no lugar de lamentar o episódio com neutralidade.
Causou mal estar com o Irã e primos vizinhos e induziu Jair Bolsonaro a declarações que poderiam ter sido evitadas. Na versão dos analistas especializados mais atentos, a ação dos EUA e a reação do Irã foram atos de um grande teatro com script pré-definido. Se assim tiver sido, todo mundo caiu que nem pato. Inclusive Bolsonaro e o chanceler brasileiro Ernesto Araújo.
O remendo veio tarde: “Nós não aceitamos o terrorismo. Não interessa o lugar do mundo em que ele venha a acontecer.” – declarou o presidente. Piorou. Dessa forma o Brasil reconheceu Suleimani como terrorista, uma acusação que só os EUA têm espaço mundial para fazer. O mais importante, entretanto, é entender como alguns analistas decodificaram o momento. Uma interpretação totalmente oposta àquela massificada pela grande imprensa.
A hipótese reservada define o episódio em etapas. Segue o roteiro:
1. Suleimani construiu sua liderança paramilitar na região, utilizando milícias para ações terroristas e ataques a alvos ocidentais, sem que o governo iraniano fosse formalmente responsabilizado por eles. Como estrategista, Qassim Suleimani edificou grande poder de influência sobre grupos como a Força Quds, Al Qaeda, Estado Islâmico e outros. Essa liderança ofuscava o presidente iraniano, Hassan Rouhani, representando uma ameaça a ele e aos aiatolás controladores. Trocando em miúdos, foi o temor que viveu Lula com a grande influência de José Dirceu, este deixado de lado e preterido para dar lugar a Dilma Rousseff, que seria mais fácil de ser manipulada. Rouhani não tinha um substituto e temia que Suleimani viesse tomar o poder no Irã a qualquer momento. Impedido de tirá-lo de circulação por sua popularidade e liderança, a única saída seria a sua morte. Nada melhor que os EUA para cumprir a missão.
2. Então entra em ação o ataque preciso, com horário e localização que dificilmente os EUA teriam acesso sem a colaboração dos próprios iranianos, por mais que a CIA seja o ó do borogodó para achar qualquer coisa viva no planeta. Depois de executar Suleimani, Trump, que não arredou o pé do seu passeio na Flórida, aguardou a reação prevista: comoção muçulmana, mobilização em torno de Rouhani, ânimos acirrados e união nacional. As reações em vários países, inclusive no Brasil, eram necessárias – e aguardadas – para dar credibilidade ao plano. Assim a segunda etapa foi cumprida, o funeral de Suleimani foi outro mega evento, especialmente coroado com 50 mortes de fanáticos pisoteados na multidão que chorava copiosamente.
3. Hassan Rouhani então teria que cumprir a terceira etapa do plano, uma vingança cruel sobre as forças de Trump. Assim ele prometeu em discurso inflamado e amplamente divulgado na imprensa mundial. O pânico tomou conta das redes sociais e veículos da imprensa, de forma crível, aterrorizante. Assim aconteceu. O Irã disparou uma dúzia de mísseis sobre bases americanas, mas não atingiu nem os cães farejadores. As forças aliadas teriam sido avisadas com antecedência e evacuaram as duas bases, foram beber Jack Daniels enquanto eram atingidas e retornaram depois com o espanador. Nenhuma baixa.
No Irã a imprensa e a internet são controladas e censuradas e a informação é exclusividade do Estado. Então Rouhani mandou divulgar o blefe de que seus mísseis teriam matado 80 militares inimigos, como implacável vingança prometida por ele. Nova comoção social com amplo apoio da população ao regime dos aiatolás. Assunto encerrado, plano concluído com sucesso.
Os indícios de que todas essas suposições podem ser verdadeiras são verificadas nos dias imediatamente seguintes. Trump, em reação ao ataque, disse em coletiva que não faria nada, apenas cumpriria o embargo já existente, além de estar aberto ao diálogo. Rouhani aceitou a proposta, ficou livre de Suleimani e retomou o status de líder na região, concordando que o diálogo pode ser o melhor caminho. Rússia e China, que têm na região um grande mercado de armas, não foram convidadas para o baile e poderão perder boa parte da clientela para os EUA.
Em Hollywood as produtoras disputam o roteiro do episódio e juram que será mais um blockbuster baseado em fatos reais. Os russos vão brigar por royalties…