Washington acordou nesta segunda, 20, sob uma nova velha ordem. O clima frio, beirando a casa de zero grau, esquentou com a posse de Donald Trump, agora mais velho, mais audacioso e, dizem, mais seguro de si. Ele voltou ao Salão Oval como quem retorna ao palco de um espetáculo já ensaiado.
Tudo começou pouco antes do meio-dia, horário de Brasília. É o primeiro dia de sua segunda passagem pela presidência dos Estados Unidos. A Casa Branca e seu entorno desde cedo fervilhava com o som de cornetas arriscando papéis oficiais.
Na mão de Trump, uma caneta e a assinatura de cem ordens executivas em uma só tacada. Cem decretos que prometem redesenhar o mapa do mundo como um quebra-cabeça de núcleos conservadores. O xerife voltou armado até os dentes. E com escudeiros de peso, como Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg.
Trump não cogita uma limpeza étnica, mas não dará moleza aos imigrantes. Sua mensagem é clara: “tolerância zero”. A fronteira, sempre porosa, será agora cercada por muros reais e simbólicos. O “Remain in Mexico”, arquivado nos anos Biden, ressurge como um bumerangue, trazendo com ele a promessa de contenção.
A cidadania por nascimento, um direito inquestionável para muitos, será abolida para os filhos de imigrantes irregulares. É o prenúncio de um cerco a um sonho que, para muitos – entre os quais milhares de brasileiros -, já se tornou pesadelo.
Na educação, Trump será firme no combate à “doutrinação”. Verbas destinadas a programas que discutiam ideologia de gênero, raça ou questões consideradas inapropriadas para crianças serão cortadas. Para o novo presidente americano, é hora de “devolver a inocência” às escolas. Por certo haverá uma censura branca na liberdade, considerada excessiva, que circula como uma sombra nos corredores acadêmicos.
Trump volta com uma trindade do poder: o apoio das Big Techs, o controle do Congresso e uma Suprema Corte moldada à sua imagem e semelhança. O homem que outrora enfrentou o “establishment” parece agora ter se tornado parte dele – um arquiteto de uma nova ordem conservadora.
Mas, como em todo bom faroeste, há sempre uma tensão no ar. O mundo, já fragmentado por disputas geopolíticas e crises internas, observe com atenção os próximos passos. Trump, com suas canetas e seus decretos, não pretende governa apenas para os Estados Unidos. Cada ordem assinada ecoa além das fronteiras, moldando alianças, desafetos e o próprio conceito de democracia.
Se os primeiros atos deste começo de administração do Tio Sam promete tantas reviravoltas, o que esperar dos próximos capítulos? Como diriam diplomatas distribuídos ao redor do mundo, o palco está montado, as cortinas abertas, e o público – nós todos – é ao mesmo tempo espectador e personagem desta epopeia moderna. Resta saber como reagirá o Sul Global.
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Marta Nobre é Editora-Executiva de Notibras