O Tribunal Superior Eleitoral não é um estúdio cinematográfico, tampouco uma sala de cinema. No entanto, o plenário da Corte Eleitoral está pronto para uma reprodução épica de uma película que marcou as gerações dos anos 60 e 70, inclusive o ex-mito que um se dia imaginou galã. Aliás, mesmo ausente, ele será o astro desta quinta-feira (22). Refiro-me ao filme Sete Homens e Um Destino, estrelado por Yul Brynner, Charles Bronson, Steve McQueen, James Coburn, Robert Vaughn, Brad Dexter e Horst Buchholz. Todos “mocinhos” contra a gangue do magistral Eli Wallach, o vilão mexicano Calvera. No cenário montado no TSE, o Código Eleitoral e a Constituição serão as armas usadas pelos sete homens da Justiça Eleitoral.
O destino a ser selado é o de Jair Messias Bolsonaro, que já foi 11 (PP), 17 (PSL), 22 (PL) e, quem diria, deverá começar a cair exatamente no 22 de junho. No papel principal do remake da famosa película de 1960, Alexandre de Moraes, o ídolo Xandão, cuja cabeleira não nos permitirá observar o franzido da testa no momento de seu portentoso e definitivo voto. Como coadjuvantes de peso e de pompa, votam inicialmente os astros Benedito Gonçalves, Raul Araújo, Floriano de Azevedo, André Tavares, Carmém Lúcia, Nunes Marques e Xaaaannnndão. O relator da peça contra o Calvera do Cerrado – similar ao roteirista do filme – é o ministro Benedito Gonçalves, autor de um relatório/roteiro/voto que já passou de 460 páginas.
Como 460 páginas são 460 páginas, provavelmente o dia 22 será destinado somente à leitura do relatório e do voto. Portanto, nesse caso, ainda que haja pedido de vista, a decisão final será conhecida no dia 27 deste mês. A estratégia da vista não está afastada. Se ocorrer, obviamente que ela será pedida por Nunes Marques, com a intenção de postergar o desfecho do processo. Não bato o martelo, mas sou capaz de jurar que Xandão e sua trupe têm uma carta na manga para o caso da vista: todos antecipam seus votos e, ainda que seja adiada a proclamação do resultado, o Brasil, o mundo, o clã Bolsonaro e toda a patriotada saberão, ao vivo e em cores, que não há mais papa.
Os números que já eram ruins ficaram terrivelmente negativos para o mito desde 8 de janeiro. De acordo com a imprensa que se alimenta de fofocas, o novo elenco da Justiça Eleitoral garante antecipadamente um placar de 6 a 1 pela inelegibilidade do ex-pastor de ovelhas desgarradas. Esse escore garante mais um Oscar para a galeria do TSE. Ou será para a prateleira de Xandão? Pouco importa. Importante é que a matemática não tem favorecido o berço do conservadorismo tacanho, abjeto, extemporâneo e negro. A julgar pela expectativa criada desde a posse de Luiz Inácio, o comandante do número 13, o desfecho do 22 de Bolsonaro está por um pentelímetro, o mesmo que um merréis ou um pingo de solda.
Enquanto aguardo o The End do Bolsonarus Day, resolvi pesquisar a numerologia para tentar descobrir onde foi que o Jair errou. Se é que ele acertou um dia. Li, por exemplo, que o 22 é uma combinação rara de ideal e pragmatismo. É o número da ambição, mas também do balanço. Seus detentores planejam cada passo e, por isso, são grandes líderes. O resultado de suas conquistas tem o potencial de durar por gerações. O homem do 22 traz consigo camaradagem, cooperação e parceria em qualquer situação que ele apareça. Profissionalismo, habilidade e trabalho em equipe são algumas de suas características. Entre bestificado e certo de que os números nem sempre são verdadeiros, decidi também pesquisar o 17 utilizado no longínquo 2018.
Aí tive certeza de que, assim como o povo que habita o planeta Bozo, a tal numerologia diz o que eles querem que os números digam. As pessoas regidas pelo número 17, de acordo com a numerologia, são líderes natos, pessoas determinadas e voltadas para o despertar espiritual, pois trazem consigo a energia e o arquétipo de disciplina, responsabilidade e seriedade. É claro que não estamos falando do mesmo cidadão. Para ele ficar um pouquinho melhor do que foi como soldado, capetão, deputado e presidente, é preciso nascer de novo. Deus acima de tudo e de todos não faria isso conosco novamente. Pode até voltar, mas como político nunca mais. Os ministros do TSE são inteligentes, zelosos e, sobretudo, conscientes de que mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.