PSDB, demagogo, fica reduzido ao falso moralismo da antiga UDN
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emO ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicou artigo intitulado Desvendar a trama, repercutido nos mais diversos veículos de comunicação, no qual faz duras críticas ao Partido dos Trabalhadores e seu principal nome, o também ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. O texto peca por conta de uma exagerada memória seletiva, e também pela completa falta de propostas alternativas ao modelo do governo atual. Esta réplica pretende desvendar mais um pouco essa trama política, pelo bem do debate público.
É evidente que você, Fernando Henrique, prefere sim voltar ao tema das crises, afinal, o terceiro turno é liderado pelo seu partido. A recessão de fato está tomando forma, mas ela é acelerada pelo modelo de política econômica também por ti propalado. Penso que é ingenuidade em tocar na questão do desemprego, ou então certeza da ignorância dos leitores. É o atual governo que trouxe o desemprego ao menor patamar histórico.
A gestão tucana assumiu o Planalto com 6,1% de desemprego e entregou o indicador em 12,6% no ano de 2002, como tens coragem de reclamar de 6,2%? Sobre o BNDES, investir em obras e infraestrutura é fundamental até mesmo para reduzir o tal “custo Brasil”, constantemente em pauta. Lembra-se do PROER? Pois é, foram R$ 37 bilhões, à época, somente para “solidificar” os bancos. O senhor também fez uso do BNDES para financiar as privatizações, feitas “no limite da irresponsabilidade”. Não é por aí que deste algum exemplo.
Sobre o setor elétrico, recorro a opinião do engenheiro Roberto D’Araújo, diretor do Instituto Ilumina, especializado no assunto. Em entrevista concedida a este que lhe escreve, ele postula que:
Quem conhece o singular sistema físico de produção de energia elétrica sabe que o que foi imaginado pelo governo FHC, mas efetivamente implantado pelos governos Lula-Dilma é uma adaptação mimetizada de modelos mercantis implantados em sistemas de base térmica. Não há como não ser crítico. Todos os problemas foram relatados ao governo Lula em 2003, mas a política resolveu ouvir o ‘mercado’ e desprezar os avisos.
Ou seja, a falha de nosso modelo consiste justamente em ceder as cantilenas do mercado autorregulado, o qual temos em ti um grande entusiasta. Portanto, parece equivocado que teça comentários desse teor.
Em relação aos programas de aceleração do crescimento, é reconhecido internacionalmente o sucesso das políticas anticíclicas encabeçadas pelo ex-ministro Guido Mantega, no intuito de combater a segunda maior crise do capitalismo, esta iniciada em 2008 e ainda por aí. Sobre contas públicas, deficit e dívida, refresco sua memória citando o desempenho de seu governo. Em 1995, quando subiste a rampa do Palácio, a dívida pública líquida estava em 29,5%. Findado seu governo, este índice havia saltado para 60,4%. No tocante aos deficits, em 95, 96 e 98 praticamente não entregaste superavit primário algum e curiosamente não vimos histeria nem na imprensa, nem no congresso. Quanto aos exercícios em que houve superavit, não há grande diferença entre seus números e os das gestões petistas posteriores. Mas, nesse ponto, é bom salientar que triste mesmo é um país onde políticos disputam quem entrega mais dinheiro público ao setor financeiro.
Certíssimo estás quando apontas que o ajuste fiscal nos botará numa “espiral de agruras”, mas estranho que não saiba de propostas alternativas que saneariam as contas sem penalizar o trabalhador mais uma vez. Por que não sugeres uma auditoria da dívida pública que tem enorme potencial de redução de gastos, visto que muitos desses compromissos tem sérios indícios de fraude? Veja bem que esta não é uma proposta de calote, o que for legítimo permanecerá sendo pago, os contratos ilegais, com vícios insanáveis é que seriam revistos. Ou então, poderíamos ao menos reduzir a Selic para diminuir os gastos com juros, pois, o serviço da dívida consome em torno de 45% do orçamento anualmente, de longe a maior fatia dos gastos.
Tendo em vista que o jurista Miguel Reale Júnior, de quem seu companheiro de partido Aécio Neves encomendou um parecer técnico, discorda de que há condições objetivas para o impeachment, é golpismo sim permanecer falando sobre o assunto, interessante somente a aqueles que sofreram quatro derrotas seguidas nos pleitos presidenciais. Em relação aos escândalos, é sintomático que se detenha na Operação Lava Jato. Ora, o Swissleaks e a Zelotes indicam montantes de dinheiro público saqueado bem acima dos tratados na Lava Jato, é no mínimo estranho que sua ideia de corrupção se atenha ao menor dos casos.
Falando ainda de Petrobras, roubalheira e Lava Jato, é forçoso reconhecer que quando foi extinta a exigência de licitação para compras da empresa, abriu-se a porteira para todo tipo de conluios, “desarranjos” e desvios. Até mesmo o altivo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, concorda. Porém, escandaloso é quando lembramos que a lei (9478/97) que permitiu essa bagunça foi sancionada por sua caneta, e que o delator Pedro Barusco afirma que foi exatamente nessa época que instalou-se o dito petrolão. Nesse ponto a seletividade de fatos escancara a níveis inaceitáveis.
Finalizo constatando com tristeza ao que se resume o PSDB e suas lideranças. A incapacidade de inovar, propor, reduziu o tucanato ao falso moralismo da antiga UDN, ao cinismo de um Alckmin, a truculência de um Beto Richa. Não será vocalizando os interesses de um diminuto setor da sociedade, distribuindo acusações e estendendo as fronteiras da demagogia que o PSDB retornará ao poder.
Rennan Martins