Ricardo Brito e Adriana Fernandes
O PSDB pressiona o governo interino de Michel Temer para que deixe de fazer concessões no controle dos gastos públicos após a votação final do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado.
Representantes de todas as alas da legenda defendem reformas macroeconômicas e uma gestão mais austera das contas do governo a partir de setembro, quando Temer deverá ser efetivado na Presidência.
Na quarta-feira, 3, o senador José Aníbal (PSDB-SP), suplente do ministro das Relações Exteriores, José Serra, combinou, em conversa pela manhã com o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o tom do discurso que fez horas mais tarde no Senado em defesa de um ajuste fiscal intransigente.
Para Aníbal, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deve ser inflexível e evitar novas “bondades” como as concedidas ao Poder Judiciário, ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público nos Estados.
A insatisfação no PSDB ficou mais evidente após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ter defendido a candidatura de Temer à reeleição em 2018 em entrevista publicada no domingo.
A pessoas próximas, Aécio reclamou do que considera “leniência” e “flexibilidade” do governo no ajuste das contas. Nos 83 dias de gestão interina, as bancadas do PSDB na Câmara e no Senado ficaram praticamente sozinhas na crítica à aprovação de reajustes do funcionalismo público que superam os R$ 50 bilhões de impacto até 2019 em meio à crise fiscal.
“É um governo em campanha ou para passar para a história?”, questionou Aécio em conversa recente com interlocutores. O presidente nacional do PSDB deve tratar desse assunto na próxima semana com Temer.
Aécio, que na segunda-feira recebeu um telefonema do presidente em exercício – no qual Temer negou a intenção de ser candidato ao Planalto em 2018 -, tem afirmado que não se preocupa se o peemedebista vai disputar a Presidência em 2018.
Cobranças – Um dos vice-presidentes do PSDB, o ex-governador paulista Alberto Goldman também defende uma postura mais firme da gestão Temer no controle das contas públicas. “Compreendo a cautela do presidente, mas, na minha opinião, é cautela demais. Ele está temeroso demais com a pressão das corporações”, disse Goldman, da ala serrista do partido. Para o tucano, o próprio PSDB deve ser mais firme nas cobranças ao Palácio do Planalto.
“É óbvio que precisamos de uma gestão mais austera”, disse o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA), outro tucano serrista. “Mas não tem como ter o voluntarismo de dizer que vai fazer tudo de uma vez”, ponderou. Segundo ele, o presidente em exercício começou a restabelecer a confiança no País e, se conseguir baixar os juros com a aprovação de medidas econômicas, retomará os investimentos.
Ligado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o deputado Miguel Haddad (PSDB-SP) admitiu que há um “desconforto” no partido em relação ao governo. “Tenho compreensão de que, até o impeachment de Dilma, Temer tem dificuldades para encaminhar as reformas, mas, passado isso, o País não poderá esperar mais”, afirmou.
O PSDB adotou o discurso crítico ao Palácio do Planalto após o governo, mais uma vez, ceder no projeto da renegociação dos débitos com Estados e municípios e da aprovação em comissão do Senado da proposta que reajusta os subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal, com efeito cascata nos governos regionais.
Divisão – Na prática, a ala liderada por Aécio fala em apoio crítico ao presidente em exercício, mas há quem cogite um eventual afastamento do governo se ações concretas não forem tomadas. Líderes ligados a Alckmin e a Serra dizem não ser possível se dissociar da gestão comandada por Temer, a quem o partido apoiou para derrubar Dilma. Mas também cobram medidas efetivas.
Embora de maneira discreta, Serra tem feito críticas internas à combinação de juros altos com expansão dos gastos.
Dos três “presidenciáveis” tucanos, Aécio foi quem mais hesitou em aderir ao governo Temer. Atualmente, o PSDB tem, além de Serra, os ministros Bruno Araújo (Cidades), ligado a Aécio, e Alexandre de Moraes (Justiça), indicado por Alckmin. A legenda ainda tem o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Meirelles tem dito a interlocutores que as cobranças podem ajudar na aprovação das medidas no Congresso o mais rápido. “Quanto mais pessoas defenderem o ajuste, melhor.”