Igor Gadelha e Renan Truffi
O líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), anunciou na noite desta segunda-feira que o partido vai recorrer da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de não cassar a chapa Dilma-Temer durante o julgamento concluído na semana passada. Segundo ele, a decisão foi tomada durante reunião ampliada da executiva nacional e de outras lideranças tucanas, quando o partido decidiu permanecer na base aliada de Temer.
“O partido vai recorrer, a forma como vai recorrer ainda não foi definida”, disse Tripoli em entrevista coletiva. Para ele, o melhor caminho deve ser apresentar um recurso extraordinário no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a decisão do TSE. “A ação é do PSDB. Se não entrar (com recurso), está prevaricando. A incoerência seria não ocorrer”, acrescentou o líder tucano, ao ser questionado se o recurso contradiz a decisão da maioria do PSDB de não desembarcar do governo.
Na entrevista, Tripoli afirmou ainda que houve “convergência” entre os presentes da reunião sobre antecipar as eleições para escolha de novos membros da executiva nacional do PSDB. A eleição, que escolherá o substituto definitivo do senador afastado Aécio Neves (MG) na presidência do partido, está prevista somente para maio de 2018. Senadores e deputados querem antecipar o pleito para o segundo semestre deste ano.
Incoerência – Já o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), reconheceu nesta segunda-feira, 12, que há uma incoerência no fato de o partido ter decidido, ao mesmo tempo, se manter na base aliada do governo Michel Temer e recorrer contra a absolvição do peemedebista pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Com certeza existe uma incoerência nisso, mas é a incoerência que a história nos colocou”, afirmou.
Jereissati lembrou que, como presidente do partido, não deixará de reconhecer que houve corrupção e uso de dinheiro público nas eleições de 2014 por parte da chapa Dilma-Temer. “Achamos que houve corrupção e uso do dinheiro público nas eleições de 2014. Não temos a menor dúvida sobre isso. Não temos porque ficar calados se temos ainda o recurso para provar nossa convicção”, disse. Segundo ele, o tipo de recurso só será definido após o TSE publicar o acórdão do julgamento.
“Esse não é meu governo, não é o governo dos meus sonhos. Não votei nem nele (Temer) nem nela (Dilma). Estão aí por causa da circunstância do País que nos levou a isso”, afirmou o senador, ressaltando que era a favor do desembarque, mas que foi voto vencido. “O PSDB está dentro desse governo, com seus ministros, não em nome do governo, mas em nome da estabilidade e das reformas que são necessárias. Nossa maior preocupação são os desempregados que estão aí e não deixar que essa crise econômica venha a piorar”, acrescentou.
Jereissati afirmou que o PSDB ainda não decidiu fechar questão a favor da aceitação de eventual denúncia contra Temer enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Segundo ele, por enquanto, a orientação é que cada deputado vote como quiser. “Vai ser uma decisão da Câmara, totalmente deles. E cada deputado vai votar da maneira como quiser, inclusive no plenário Não existe nenhuma decisão de fechar questão em relação a isso”, declarou o tucano na entrevista.
No Congresso e no Palácio do Planalto, a expectativa é de que Janot envie a denúncia até o fim de junho. Para que o Supremo Tribunal Federal (STF) possa processar Temer, a imputação terá de ser aceita pela Câmara. Para que a denúncia seja aceita, são necessários votos favoráveis de 342 dos 513 deputados. Se for aceita, Temer terá se der afastado do cargo por 180 dias, para que o Supremo o julgue. Caso o julgamento não seja concluído ao fim desse prazo, Temer retorna ao caso, mas continua sendo processado pela Corte.
Aécio – Na entrevista, Jereissati disse ainda que o partido não vai crucificar o senador Aécio Neves (MG), afastado das funções e da presidência do partido após ser atingido pela delação da JBS. “Não discutimos Aécio Neves, não vamos crucificá-lo, vamos dar a ele o direito de defesa”, explicou. O tucano cearense confirmou a intenção da maioria do partido de antecipar as eleições para escolha do substituto definitivo do mineiro.
De acordo com o presidente interino do PSDB, essa eleição poderá ser antecipada em duas situações: caso Aécio renuncie ao cargo ou seja expulso do cargo. Jereissati ressaltou, porém, que tudo será combinado com o senador mineiro. “A ideia é que na próxima reunião da Executiva, na semana que vem, se convoque uma eleição nacional”, explicou o parlamentar cearense.