Apesar de o assunto Bolsonaro aparentemente ter se esgotado com a primeira e mortal condenação no Tribunal Superior Eleitoral, impossível não continuar usando Jair Bolsonaro como protagonista de algumas narrativas políticas, embora seu protagonismo tenha se limitado a algumas películas de terror. Guardadas as devidas proporções, a sexta-feira, dia 30 de junho, lembrou o dia 30 de outubro de 2022, quando o mito perdeu a eleição, ficou sem mandato, perdeu o rebolado, criou a tal da imbrochabilidade e, pior do que tudo, começou a articular um golpe que, além de lhe garantir a honorabilidade de mau perdedor, o incluiu na lista negra dos brasileiros que só causaram mal ao país.
Oito meses depois da vitória de seu vilão preferido, Jair ouviu o galo cantar, a coruja piar e Xandão proclamar o mais retumbante “sextou” do ano. Junto com os 5 a 2 do TSE, o placar da inelegibilidade, no mesmo dia foi anunciada a menor taxa de desemprego em oito anos (8,3%), a redução dos preços das gasolina e do gás de cozinha, o dólar a R$ 4,79, o melhor semestre do Ibovespa desde 2019…
Mais relevante só o destino do ex-presidente, com reiteradas histórias de racismo e de machismo, ter seu futuro definido por um negro e por uma mulher. Benedito Gonçalves e Cármen Lúcia foram, respectivamente, os responsáveis pelo voto primário e pelo voto que garantiu a maioria contra o dito cujo.
Que os patriotas de meia cura entendam e avaliem como quiserem o resultado da Justiça Eleitoral. A decisão de cinco ministros da Corte não foi somente contrária a Bolsonaro e seus arroubos infantis e idiotizados. Foi fundamentalmente contra os mentirosos e produtores de fake news. Em outras palavras, a condenação deve ser recebida como um duro recado ao grupelho do mal. Ponham as barbas de molho, sob pena de futuramente serem obrigados a disputar espaço nos calabouços da Papuda e de similares. A partir de agora, a patriotada não terá vida fácil. Se bobearem, Xandão novamente matará no peito e pimba. Como nos velhos faroestes italianos, do tipo pastelão, Xandão não perdoa: mata e volta.
Por falar em filmes, Valdemar Costa Neto – o Ringo tupiniquim ou o produtor de melodramas com prejuízos de quase R$ 4 milhões – enfrentará sérias dificuldades para encontrar alguém que queira contracenar com o Messias furado nesses próximos oito anos. Assim como seu chororô, a fuga e o frustrado golpe, a partir da segunda derrota para a democracia, o Jair de meia dúzia de loucos terá de se contentar com pequenas pontas em produções alheias, baratas, mas bem sugestivas. Duas delas já estão quase prontas para entrar em cartaz. Como certamente terá de pagar os custos de suas fanfarronices, Bolsonaro talvez nem consiga o papel de lanterninha nos filmes brasilienses Nosferatu dos Trópicos, Drácula do Cerrado e Ema Vampirizada.
Sem efeito especial algum, a fita dos quatro dias que custaram a inelegibilidade do mito foi o que melhor aconteceu ao país desde 30 de outubro. No longa-metragem eleitoral, a ordem, a lei e a democracia entraram sem bater. Dos sete ministros, cinco deixaram claro que o Brasil não é uma republiqueta de bananas. Pelo contrário, mandaram dizer o que disse o Barão de Itararé nos anos 40 e 50: “O Brasil é feito por nós. Está na hora de desatar esses nós”. Em resumo, disseram a Jair que acabou aquela marmota de que os vivos são e serão sempre governados pelos mais vivos. Dizer que não foi condenado por corrupção pode ser um mantra negativo. É o mesmo que afirmar que roubou, mas não matou.
Acusar o TSE de tê-lo massacrado é outra balela. Afinal, nunca na história deste país um presidente da República usou tanto do poder para achincalhar representantes de outro poder, particularmente do Judiciário. O que os ministros devem informar a Bolsonaro nos demais 15 processos contra ele no tribunal eleitoral é que a única coisa que se move que não muda de caminho é o trem. Ele não mudou, bobeou e dançou.
Jair Messias Bolsonaro, o tenente com pompas de capitão, não é mais problema do Brasil. Seu cuidador agora atende pelo nome de Valdemar Costa Neto, sob a supervisão de Xandão, o xerifão do Planalto Central. Enquanto isso, José Paulo Sepúlveda Pertence, um dos mais festejados ministros do STF e do TSE, está no céu, onde aguarda liberação de Deus para também votar para cortar definitivamente as asas do anjo do mal.