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Tudo pela honra e glória de minha longa lista do coração

Farto de tudo que parte de extremos, estou, assim como uma expressiva parcela dos brasileiros, no limite da exaustão. Por isso, como já disse neste mesmo espaço, sou capaz de optar pela moça que faz ponto na escuridão da noite, mas jamais votaria em quem já deveria estar sendo julgado pelos tribunais internacionais por negligência com a saúde do povo. No mínimo. Ainda não é uma declaração de voto, mas, apesar dos equívocos do passado e do presente, resolvi seguir a recomendação do poeta Oswaldo Montenegro e também fiz minha lista.

A diferença é que meu repertório não inclui apenas os que via todo dia e já não encontro mais. Eles partiram decepcionados e sem chances de reverter a fórmula mágica à base de tubaínas para controle de uma gripezinha maldita que matou 664 mil brazucas. Não tiveram tempo. No cadastro de minha alma estão incluídas algumas centenas de amigos que, como eu, mantêm os sonhos que nunca desistiram de sonhar. Entre eles, o “segredo bobo” de viver para um dia recuperar a esperança perdida exclusivamente por uma precoce e desmedida antipatia àquele que jurou nos honrar.

Tudo bem que a promessa foi cumprida pela metade, mas foi demais escolher quem sempre pensou nos desonrar, nos desunir, nos golpear, nos transformar em párias e, se puder, nos torturar. Por uma dessas ironias do destino, o pretenso salvador da pátria foi – e vai – no sentido oposto do que imaginavam seus falsos apoiadores. Desde a vontade de se eleger comandante em chefe da Terra Brasilis, claramente seus objetivos são marginalizar quem não o segue, excluir a massa de brasileiros do convívio social e exilar os que ele não considera puro sangue. Tarefa difícil, mas não improvável. Querem ter certeza? Facilitem sua reeleição.

Curiosamente, o condenado, o delinquente, a encarnação de Barrabás é quem hoje pode verdadeiramente salvar o Brasil do apocalíptico caos econômico-social. Mais do que isso, é quem pode nos tirar da óbvia condição de pária internacional. Isso não é um sonho, tampouco diploma de inocência ou salvo conduto para ele voltar a fazer o que dizem que fez. Respeito, mas abomino a toga. Por isso, não me cabe entrar no mérito.

No entanto, não posso deixar de repetir antigos posicionamentos acerca da pilhagem e da tirania. Vivemos em um país onde a corrupção atende pelas adjetivações sistêmica, endêmica e sindrômica. Como o Aurélio detalha didaticamente cada uma delas, prefiro o silêncio acusador. Em síntese, apenas seguiríamos nosso destino, traçado desde o Império. De todo modo, ainda que estrogonoficamente falando, reitero que, entre o ladrão e o déspota, não há hipótese de tergiversar.

Sem evasivas ou rodeios, optarei sempre pela liberdade absoluta, inclusive aquela de poder denominar de ladrão quem enriquece às custas do povo ou lamentar o rompimento de laços de amizade por imbecilidades políticas. Concluindo, hoje guardo no bolso do paletó uma outra lista com apenas dois nomes. Em um talvez seja capaz de votar. Sinônimo vivo de tragédias e comédias sem gargalhadas, em outro jamais votaria. Tudo em nome da renovação. Tudo para honrar, glorificar ou perdoar os que perdi ou tive de riscar da lista do coração.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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