Cerca de 450 pessoas – entre pacientes e funcionários – participaram nesta quarta (18) de um abraço simbólico ao Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) em defesa da unidade, que trata crianças e adolescentes com câncer.
O hospital corre o risco de encerrar suas atividades. Criado em novembro 2011, a unidade era administrada pela organização social Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe), que recebia recursos públicos para gestão. Na última sexta-feira, o instituto anunciou que irá devolver a gestão do hospital para o governo distrital, conforme determinação judicial.
No dia 19 de dezembro de 2017, o juiz Paulo Afonso Cavichioli Carmona, da 7ª Vara da Fazenda Pública, proibiu o Icipe de ser contratado pelo Poder Público pelo prazo de três anos sob a alegação de indícios de improbidade administrativa.
A ação foi movida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que questiona a legitimidade do Icipe como gestor e o aumento do repasse de recursos do governo do Distrito Federal para o instituto: de R$ 90 milhões em 2011 para R$ 390 milhões em 2014. Segundo o MPDFT, existem pareceres, como do Conselho de Saúde do Distrito Federal e da Procuradoria do Distrito Federal, que apontam irregularidades na administração.O Icipe recorreu da decisão, mas não teve sucesso.
Desde a criação, a instituição soma mais de 2,7 milhões de atendimentos até o final de março deste ano. Somente no mês passado, foram 24 mil testes laboratoriais, 6 mil consultas, 389 sessões de quimioterapia e 168 cirurgias.
Durante o ato, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, afirmou que pretende solucionar a questão em uma audiência de conciliação com o Ministério Público marcada para a próxima terça-feira (24).
Segundo o governador, a ideia é “sensibilizar” o Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios, segunda instância, para a continuidade das atividades do hospital.
O governo do Distrito Federal argumenta que não têm condições de assumir a gestão do hospital.
A mudança no comando do hospital tem deixado pacientes e funcionários apreensivos. Para a técnica em segurança do trabalho do hospital, Lenir Reinaldo, a troca será “muito negativa”. “Da forma que está, está dando certo. Não há necessidade de mexer”, afirmou a funcionária, admitida em julho do ano passado.
Segundo ela, a direção tem passado informes constantes para os funcionários e garantiu que não tem intenção de enxugar o quadro de trabalhadores.
Durante o abraço simbólico, a contadora Ana Maria Batista Alves e o marido Márcio Sandro Alves da Silva relataram como é o tratamento do filho Eduardo, de 10 anos, diagnosticado com leucemia aos 4 anos.
Ana Maria contou ter experimentado ternura de toda a equipe durante as repetidas sessões de punção lombar, procedimento doloroso, e as enfermeiras tentavam distrair o menino brincando que fariam tatuagens em seu corpo. “Esse hospital é um ninho de amor”, disse, emocionada.
O governo do Distrito Federal informou que o contrato com o Icipe vigora até fevereiro e todos os atendimentos estão mantidos.