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Papo de padaria

Um certo cantor de Niterói, de nome Cauby…

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Se é verdade ou não, ainda assim se trata de uma história deveras plausível. Portanto, vale a pena ser contada, pois creio que aconteceu como me foi dita há tempos por um amigo de longa data, o Cleidson, enquanto degustávamos um delicioso café gourmet numa afamada padaria em Brasília.

A fim de fazer chacota do sarcasmo de possíveis incrédulos, eis que decidi iniciar a história com o clássico e manjado “Era uma vez…”

Era uma vez um famoso músico, compositor e maestro chamado Antônio Carlos, mas que, parece, preferia ser chamado simplesmente de Tom. Pois é, tal gajo se encontrava no Garota de Ipanema (outrora Veloso), famoso bar localizado no bairro homônimo, no Rio de Janeiro, quando o telefone tocou. O garçom prontamente atendeu e, em seguida, se dirigiu à mesa regada de chopes.

— Tom, é pra você.

— Quem é?

— Um cara que fala todo enrolado.

Mesmo sem querer interromper a conversa com Vinicius, parceiro de belas canções, lá foi o maestro atender.

— Alô? Quem é?

Do outro lado da linha, ouviu-se a voz inconfundível de um certo gringo de alcunha Frank, que quase gritou num inglês carregado da Costa Leste.

— É o Frank, Tom! Tudo bem?

— Diga lá! O que manda?

A conversa prosseguiu até que o Tom, certamente querendo mexer com os brios do amigo, o provocou.

— Sabe, Frank, não sei se você sabe de uma coisa.

— O quê?

— Você é o segundo melhor cantor de “New York, New York”.

— Tá maluco? E quem seria o primeiro?

— É um rapaz de Niterói, cidade próxima daqui do Rio.

Frank, incrédulo, ouviu aquela afronta e, mesmo com ímpeto de xingar o amigo, manteve a classe. Afinal, os dois haviam trabalhado em um disco há algum tempo. No entanto, aquilo perturbou suas ideias pelos próximos meses, até que, finalmente, soube que o tal cantor de Niterói iria fazer uma turnê pelos Estados Unidos.

O gringo tratou de comprar um ingresso na primeira fila, bem em frente ao palco. Ele estava certo de que ninguém poderia cantar a famosa canção melhor do que ele. Não mesmo!

Frank, após quase um mês de espera, assistiu ao show, que aconteceu à noite em Nova Iorque. Boquiaberto que ficou, assim que terminou o espetáculo, telefonou para a casa do Tom, que, devido ao fuso horário, já estava nos braços de Morfeu.

— Tom, desculpe por acordá-lo, mas eu precisava lhe falar.

— Diga lá, Frank. O que aconteceu?

— Você tinha razão.

— Do que você tá falando?

— Sou mesmo o segundo melhor cantor de “New York, New York”. Esse Cauby é muito melhor do que eu.

……………………….

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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