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Lucas Castello Branco

Um disco de uma nova voz que surge como uma doação

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Pedro Antunes

Da janela do apartamento na zona oeste, no topo do mais alto morro do bairro de Perdizes, Lucas Castello Branco é capaz de enxergar a serra em dias limpos de nuvens e ensolarados, obviamente. Ali, na beirada do concreto, de olho no verde ao fundo, o carioca há pouco mais de um ano e meio em São Paulo foi capaz de entender sua persona artística, seu lugar no mundo, seu ofício na música.

Serviço, o disco de estreia, lançado há quatro anos, era uma entrega, como ele mesmo diz. Erguido com a ajuda dos amigos, o álbum não foi promovido ou vendido. Não fez videoclipes, dispensou singles. Desenhando o amor em traços de pulso leve, o disco cresceu organicamente, no boca a boca. “Foi um disco que me foi doado. Tive ajuda para fazê-lo. Quis que ele também fosse uma doação”, diz Castello Branco – o nome artístico escolhido não inclui o Lucas. “Serviço, o disco, foi um serviço, mesmo”, brinca.

A estreia solo era o descolamento do que se conhecia do trabalho do artista. Um cânion de distância do som criado por ele, coletivamente, com a banda R.Sigma, influentíssima na cena da indie carioca formada ao lado de Diogo Strausz (guitarra), Tomás Tróia (guitarra e voz), GB (bateria e voz) e Eric Kendi (baixo), findada em 2011. Das guitarras distorcidas e das letras melancólicas, ele seguiu para o mato, para um ambiente sonoro brejeiro. Experimentou – ou reviveu – seus dias no monastério fundado pela mãe dele em Serra do Capim, em Teresópolis, no Rio de Janeiro, onde viveu dos 5 aos 16 anos. Naquele disco, Castello encontrava quem havia sido no período pré-vida urbana.

Sintoma, o enfim lançado segundo disco, é Castello a olhar para um mundo doente – ferido de amor, de desânimo, desalentado. Não se trata de uma dor física e, sim, de uma agonia que gela a alma A estreia do trabalho em São Paulo está marcada para esta quinta-feira, 2, na Casa Natura Musical, com participação de Alice Caymmi e Phil Veras.

No intervalo de quatro anos entre os dois álbuns, Castello Branco precisou encontrar quem era, artisticamente. Não era mais o garoto criado no Núcleo de Serviço Crer-Sendo como ele cantava em Serviço, também não era o jovem de coração partido ao tentar encontrar seu lugar no mundo com o R.Sigma. Veio Simpatia, um livro de poesias realizado com o auxílio de financiamento coletivo – e teve suas 5 mil cópias vendidas. Ali, na capa, a ilustração mostra Castello a repousar a mão pela abertura da bata colorida sobre o coração, como se sentisse, entre os dedos, o peso do órgão que faz o sangue correr por veias e artérias. Em seus poemas, ele se encontra. Contorce-se para deixar sair desejos, sexuais e amorosos, paixões e solidões, gritos e sussurros, em estrofes curtas e versos de poucas sílabas.

Algumas das palavras de Simpatia ganham o canto em Sintoma. “Com o livro, pude aprender mais sobre mim, sobre meus defeitos. Entendi que é possível me expor de forma que não consegui em Serviço, porque ele tinha outro objetivo”, explica. O segundo álbum veio motivado por uma “fome”. “A música é a melhor forma que tenho para me comunicar.”

Sem gravadora e formato físico, Sintoma está disponível digitalmente e se esparrama por 11 canções e 42 minutos. “É um espelho. Meu e do mundo onde vivemos”, explica. As mensagens, mais diretas e menos filosóficas, como em O Peso do Meu Coração, que entrou na lista das 50 músicas mais tocadas de forma viral no Spotify, Cara a Cara, Coragem e Não me Confunda, são mântricas. Apoiados em violões e sons sintetizados, os versos de Castello Branco parecem vasculhar os pontos de dores no corpo. Todos os dias, no Instagram, ele replica mensagens de agradecimentos dos fãs. São casos de depressão a insônia – alguns dos males deste século – apaziguados por Sintoma, dizem as mensagens.

Sem soar messiânico, Castello Branco se dá por satisfeito. “Quando digo cura, não quero ser pretensioso”, ele diz e segue, “não sou eu que vou curá-los, mas posso propor uma vivência de cura. Que as pessoas entrem na mesma vibração com a qual eu me curo.”

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