Notibras

Um empurrão aqui, outro ali, e as palmas dos alunos

A minha história na literatura se iniciou em meados de setembro de 2003, quando eu trabalhava no Banco do Brasil na minha cidade natal, o Rio de Janeiro. No momento do lanche, a ideia de escrever um romance entrou na minha mente. Tanto é que, naquele mesmo instante, comecei a escrever “Despido de ilusões”, concluído dois meses e meio depois.

Após um ano correndo atrás de editora, consegui publicá-lo no final de 2004. Nos meses que se seguiram, vendi um exemplar aqui, outro ali, até que recebi um telefonema de uma também funcionária do BB, a Cecília, que trabalhava no Centro Cultural Banco do Brasil. Ela queria saber onde poderia comprar mais exemplares do meu livro, pois eu havia doado dois para a biblioteca. É que “Despido de ilusões” se tornou, naquele tempo, o livro mais solicitado, e assim permaneceu pelos próximos quase dois anos.

Algum tempo após, recebi um cartão de felicitações do então senador Marco Maciel, que era membro da Academia Brasileira de Letras. Tudo parecia caminhar para o meu sucesso como escritor. Logo repórteres de todo o país, quiçá do mundo, estariam batendo à minha porta.

Não aconteceu, apesar de eu ter ainda lançado dois livros nos anos seguintes, até que a ideia de me tornar escritor foi se apagando e, em 2012, voltei a ser apenas o leitor ávido que sempre fui. E, no tempo que me sobrava, ocupava com viagens, filmes. Foi nessa época que fiz minha terceira graduação: engenharia agronômica.

De vez em quando, a minha esposa (Dona Irene) e a minha filha mais velha (Ninica) falavam para alguém que eu era escritor. Sempre respondia que eu havia escrito alguns livros e nada mais, bem como era algo do passado, que a minha vida tomara outros caminhos. A Ninica ficava chateada com isso, enquanto a minha mulher parecia melhor atriz.

Corria o ano de 2021, mais precisamente o dia 23 de dezembro, quando a Dona Irene me telefonou.

— Edu, você precisa voltar a escrever!

Tentei falar que não, mas ela, irredutível que sempre foi, me mandou escrever um texto, por menor que fosse. Minha amada falou que iria criar um blog para que eu pudesse publicar meus escritos. Na verdade, não tinha nem ideia do que a Dona Irene estava falando, pois eu nem sabia como era aquela coisa de blog.

No início daquela noite, a Dona Irene pegou o computador, mexeu daqui, mexeu dali, começou a criar um blog. De repente, ela parou, olhou para mim e abriu aquele sorriso lindo.

— Edu, qual o nome?

— Nome?

— É. Qual o nome do seu blog?

— Sei lá?

— Hum… Já sei. Muitas pessoas te chamam de Dudu. Então, vai ser Blog do menino Dudu.

Minha mulher postou alguns textos que escrevi e, após alguns minutos, já haviam alguns acessos e curtidas. A partir daquele momento, voltei a escrever, mas num ritmo alucinante, como se aqueles anos todos de abstinência tivessem represado tantas e tantas ideias.

Desde então, meus textos foram lidos por tanta gente, que era difícil acreditar, sem falar nos prêmios que passei a ganhar. No entanto, algo muito melhor aconteceu nos meses que se seguiram. É que os meus contos e crônicas começaram a ser usados em escolas no Rio de Janeiro e em Brasília.

Em novembro de 2022, conheci as turmas do professor Leandro Mendes, que usava meus textos em sala de aula. Esse momento acabou sendo publicado no site de notícias Notibras, o que me deu certa visibilidade. Mas a coisa não parou por aí.

Dias após a matéria sobre o meu encontro com os estudantes do CEF 102 Norte, em Brasília, eis que o jornalista José Seabra, então Editor-Chefe do Notibras, me telefonou. Ele queria saber se eu tinha algum conto para ser publicado no jornal. Mandei um recente: “Almerinda, a empregada doméstica”.

Novo telefonema alguns dias após do Seabra, ele me perguntou se eu possuía outros contos. Mandei outro, depois outro e, algumas semanas depois, o Seabra me confidenciou algo que me deixou nas nuvens.

— Edu, seus contos e crônicas são um sucesso. Os leitores de Notibras estão encantados.

— Que legal!!! Você quer que eu mande mais?

— Claro que sim!

— Quantos?

— Se você quiser, pode publicar todos os dias.

E foi assim que a literatura, que estava adormecida, voltou a tomar o devido lugar na minha vida. Agradeço a tantas pessoas, mas não posso me esquecer da Dona Irene, da Ninica, dos professores que utilizam meus textos em sala de aula. Tanto é que, na noite da última quarta-feira, 16 de outubro. telefonei para o José Seabra.

— Chefe, amanhã voltarei a encontrar as turmas do professor de literatura Leandro Mendes. Serão dois dias. Já será a terceira vez que irei lá. E pensar que foi graças ao primeiro encontro que a minha história no Notibras se iniciou.

Os repórteres de todo o país e do mundo jamais bateram à minha porta. Todavia, isso é algo tão pequeno diante do brilho dos olhos daquela garotada toda vez que entro na sala de aula e temos aqueles momentos que jamais imaginei viver. Nada se compara àquilo. Nada mesmo!

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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