É uma belíssima terça-feira de carnaval. O sol típico do nosso litoral e o calor da manhã me fazem relutar na minha caminhada matinal. No entanto, é óbvio que meu lado aventureira e exploradora vence. Então sigo até meu destino: a trilha que dá acesso à Praia do Ermitão, em Guarapari. Escolho o caminho mais longo e mais difícil.
Coloco meu biquíni, com um short por cima; na bolsa, protetor solar, óculos de sol, água e meu celular para registros; também acrescento uma cerveja e, claro, um livro.
Sigo pela trilha até uma prainha cujo nome desconheço: fica logo depois da Praia de Areia Vermelha; meu lugar preferido, nunca tem ninguém por lá. Sento-me em uma sombra, iniciando, em seguida, minha leitura.
Fico ali por uns quarenta minutos. Decido abrir minha cerveja quando uma borboleta-amarela, que nesse ano procriou aos montes (amo esses detalhes), vem em minha direção, desviando-se diante do meu rosto e quase me tocando antes de ir diretamente ao mar. Acompanho seu voo mar adentro até ela desaparecer na imensidão azul.
— Como pode um bicho tão pequeno e indefeso se arriscar tanto? — penso. A voz do meu hipnoterapeuta surge em minha cabeça.
— A água é uma terapia.
É um fato. Tenho muita dificuldade em parar. Existe aquela sensação em mim de que estou deixando a vida passar, porém sou capaz de ficar um dia inteiro sentada em frente ao mar sem fazer nada. A borboleta e a voz do hipnoterapeuta me fazem parar e observar à minha volta.
Olho a castanheira que me oferece sombra. Ela tem apenas seis galhos, mas abriga facilmente cerca de oito pessoas. Atrás de mim, mais uma castanheira com oito galhos longos, que cobre vinte pessoas. Noto outra borboleta-monarca surgir no alto, bailando e brigando com o vento. Em determinado momento, ela para suas asas, despencando em direção à água e voltando a batê-las a alguns centímetros do mar. Sigo o inseto até onde meus olhos alcançam.
Na água transparente à minha frente, uma família toma banho. Observo o casal de idosos, que estão deitados na água, permitindo o vaivém das pequenas ondas. Com eles, a moça, que imagino ser filha, toma banho de short — a exigência sobre a perfeição do corpo feminino faz a bela jovem se esconder. Ao lado deles, alheio a tudo e apenas sentindo o mar, o namorado.
Olho para as pedras, dois mergulhadores aproveitavam para explorar e fotografar a vida marítima.
Logo à frente, há dois pescadores em silêncio. Eles aguardam o puxar de um belo peixe, enquanto um senhor fala ao celular, em uma chamada de vídeo, tentando transmitir a alguém especial a maravilha que seus olhos têm o prazer de ver.
Em vinte minutos parada, apenas observando, vejo tudo isso e então entendo. Parar um pouco não é deixar a vida passar, e sim ver a vida passar.
Mergulho na água gelada e sigo meu caminho, feliz por este momento à toa.