O filme Ainda Estou Aqui me fez refletir sobre os aprisionamentos que a vida impõe, especialmente para mulheres como Eunice Paiva. Não me refiro a prisões físicas, mas a uma outra forma de confinamento: o das circunstâncias que fogem ao controle e que transformam cada dia em uma luta pela sobrevivência emocional.
A história de Eunice não é apenas sobre a ditadura ou sobre política; é sobre a vida como ela se apresenta para muitas mulheres. Após a perda do marido, ela precisou enfrentar a criação dos filhos sozinha, enquanto buscava respostas e justiça. Eunice é a imagem de tantas mães e esposas que assumem papéis que nunca pediram, mas que precisam desempenhar porque simplesmente não há outra opção.
E quando parecia que a luta terminaria, veio o Alzheimer. A doença que lhe tirou as memórias trouxe uma nova camada de sofrimento, uma prisão dentro de si mesma, que é tão cruel quanto o desaparecimento do marido. Sua história é um lembrete de que algumas pessoas passam a vida inteira enfrentando desafios que parecem não ter fim.
Ainda Estou Aqui é uma obra que merece ser vista. A direção de Walter Salles é precisa e delicada, e as atuações de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro traduzem com muita honestidade o peso da jornada de Eunice. Concordo com os elogios que o filme tem recebido: ele é uma peça indispensável, não apenas pelo contexto histórico, mas pelo retrato humano que oferece.
Eunice representa muitas outras mulheres que vivem batalhas invisíveis. Histórias de força e resistência que raramente chegam aos holofotes, mas que têm muito a nos ensinar sobre amor, coragem e, principalmente, a necessidade de continuar, mesmo quando tudo parece impossível.