Entender e promover a diversidade com ações que atendam as demandas de diferentes segmentos sociais é uma das importantes pautas defendidas pela comunidade acadêmica e pelos gestores da Universidade de Brasília. Na tentativa de possibilitar o acesso a informações que possam auxiliar no fortalecimento e direcionamento de políticas públicas focadas nas especificidades de travestis e transexuais, pesquisadores da UnB, junto aos de outras universidades, estão conduzindo uma pesquisa nacional com essas populações.
O estudo multicêntrico irá traçar os perfis socioeconômicos, geográficos, culturais e de vulnerabilidades desses grupos. Realizado pela Unidade de Estudos e Pesquisas em Saúde da Família do Núcleo de Estudos em Saúde Pública (Nesp), ligado ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam), o levantamento tem parceria do Laboratório de Educação, Informação e Comunicação em Saúde (LabECoS) da UnB e de instituições de ensino e pesquisa em todo o país. A pesquisa conta com recursos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, além de oriundos de emenda parlamentar.
Para Edu Cavadinha, professor no Departamento de Saúde Coletiva (DSC) da UnB e coordenador da iniciativa pelo Nesp, essa pesquisa vem como uma tentativa de contribuição a uma demanda antiga da Universidade.
“Dispor de informações e dados reais e fidedignos tem sido, historicamente, um pleito dos movimentos sociais da comunidade LGBTQI+, já que uma das consequências da invisibilidade é ficar de fora de pautas e de políticas públicas”, pontuou o docente, que também é coordenador do Observatório da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, vinculado ao núcleo do Ceam.
O projeto tem o envolvimento de pesquisadores e bolsistas travestis, mulheres e homens trans e pessoas não binárias. É dividido em duas frentes de coleta de dados: a de entrevistas – que já tem quase cem respondentes até o momento – e a de aplicação de questionário on-line, no ar até julho – que já alcançou mais de 300 respostas. Mais informações sobre a pesquisa estão disponíveis no site e no perfil no Instagram (@ecos_fsunb) do LabECoS.
Embora o levantamento ainda esteja em curso, Edu Cavadinha relata que, a partir das informações já obtidas, tem sido possível notar situações de preconceito, violência e falta de acesso a aparatos públicos no país.
O coordenador do Observatório do Nesp avalia ainda que a pandemia trouxe sofrimento para toda a população brasileira, mas que algumas discussões acadêmicas apontam para o quanto o isolamento social, necessário para lidar com a covid-19, tem impactado na população LGBTQI+, em especial nas pessoas trans.
“Com essa pesquisa, além de pensarmos novas políticas públicas, também gostaríamos de descobrir estratégias para incluir essa população nas políticas já existentes que, na maioria das vezes, não consideram a existência dessas pessoas”, pondera o docente.
Iniciativas da Universidade contribuem para tornar ambiente acadêmico mais acolhedor à diversidade. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB
Neste 17 de maio, Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, a UnB dá visibilidade às ações realizadas continuamente na instituição voltadas ao respeito à diversidade. Edu Cavadinha destaca que a Universidade possui diversas iniciativas interessantes conduzidas pela comunidade acadêmica. “A maioria é puxada por estudantes, como grupos, seminários, discussões, intervenções. Esses grupos são muito atuantes”, aponta.
O acolhimento a travestis e pessoas trans dentro da UnB também é feito pela Diretoria da Diversidade (DIV), que atua para propor, desenvolver e garantir políticas educacionais e institucionais de enfrentamento às desigualdades, opressões e preconceitos.
“A aplicação do nome social, por exemplo, é a mais progressiva que se tem em todas as universidades, porque ela atende pessoas a partir de 16 anos no direito ao uso do nome social dentro da UnB”, lembra Susana Xavier, diretora da Diversidade.
A Universidade conta, ainda, com o Programa de Atenção à Diversidade (Padiv), que inclui a oferta de acolhimento às vítimas de violência decorrentes de LGBTfobia e pagamento de bolsa emergencial em situações específicas.
“Procuramos articular medidas para manter o estudante dentro da Universidade e combater a evasão. Também estamos fazendo uma parceria com o Centro de Referências Especializado em Assistência Social [Cras] da diversidade para o uso da casa Abrigo [que acolhe crianças, adolescentes, idosos e famílias em decorrência de violação de direitos] no acolhimento desse grupo”, detalha Susana.
Ela lembra que a orientação e os acolhimentos feitos pela DIV a grupos diversos seguem acontecendo, apesar de as atividades da instituição seguirem de forma remota.
Está sendo construída, ainda, a primeira Conferência de Combate à LGBTfobia da Universidade. “Já estamos na quarta reunião, com participação efetiva e massiva da comunidade e da sociedade. Pretendemos tirar dessa conferência uma política de combate à LGBTfobia e de garantia de permanência de estudantes LGBT na UnB sem sofrer violências”, antecipa a diretora.
Também já há uma resolução aprovada na Câmara de Assuntos Comunitários (CAC) que prevê a reserva de vagas para pessoas trans e travestis nas seleções para estágios. O texto ainda precisa ser votado no Conselho de Administração (CAD).
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