O Brasil do fracasso de uma administração que chegou a se anunciar como salvadora da pátria se transformou em um muro de lamentações. Na verdade, de queixas de um contra o outro e, sobretudo, de ameaças do outro contra o um. É claro que tudo isso tem a ver com tripé vitória-derrota-ressentimento. Tanto um lado quanto o outro esquecem que governar é a arte do possível. Havendo um mínimo de inteligência, apoio e uma boa equipe de retaguarda, qualquer cidadão, mesmo aqueles abaixo da linha da mediocridade, consegue administrar um país com as dimensões do Brasil.
Portanto, seja de esquerda ou de direita, basta que haja boa vontade e um entorno competente para que o recado seja dado conforme o desejo da maioria. No país do pré-golpe, faltou de tudo, principalmente tato, coerência, sabedoria e um pouco de discernimento para que o então líder soubesse que sozinho ninguém chega a lugar algum. Na nação do pós-golpe, sobra vontade de acertar, mas falta a contribuição daqueles que preferem manter o endeusamento àquele que nada fez porque nada sabia.
Esse é o Brasil de 213 milhões de brasileiros divididos entre o macaco e o mico. E é nesse Brasil que, como diria o poeta contemporâneo, viver deixou de ser um ato de amar e de ser feliz. Em um mundo em que diariamente somos massacrados por movimentos efetivos e de faz de conta, a vida na Terra Brasilis se tornou um eco. Se você não está gostando do que está recebendo, observe o que está emitindo. Em qualquer livro de autoajuda está escrito que a vida se encolhe ou se expande na mesma proporção de nossa coragem.
A olho nu, o brasileiro dividido está “derretendo”, esgotando sua capacidade de regeneração, o que, a médio e longo prazos, colocará em risco latente a magia e o poder de prover suas próprias necessidades. Partindo do pressuposto de que a vida também deve ser entendida como uma festa, ou pensamos efetivamente na diversão ou nossos netos e os filhos desses serão obrigados a desistir de viver. Traumático? Talvez, mas é a nossa realidade. Sem idealismo, mas com exageros ideológicos e partidários, temos de pensar rápido em soluções simples e eficazes em defesa da política e do povo, segmento do qual fazemos parte.
Está escrito na lei divina e nos artigos 5º. e 6º. da Constituição Federal que as normas protetivas do direito à vida, à saúde, à dignidade e à felicidade abrangem os direitos de nascer, de permanecer vivo, de alcançar uma duração de vida comparável com os demais cidadãos, de não ser privado da vida por meio de pena de morte e de ter uma vida digna, promovendo sua subsistência. Esse deveria ser o comprometimento de todo homem público preocupado com as mazelas do Brasil. Se cada um deles fizesse o que promete, nenhum brasileiro morreria de fome.
Estamos em fase de recuperação política, econômica, social e, sobretudo, ambiental da Pátria Amada. O objetivo comum deve ser o de recuperar a “terra arrasada”. É fundamental que estejamos alertas para o caminho sem volta que a briga ideológica pode nos empurrar. Não podemos esperar por milagres. Ou nos unimos ou enfrentaremos cenários inimagináveis na biodiversidade, na segurança alimentar, na saúde humana, além da própria vida. A catástrofe climática do Rio Grande do Sul não deve ser esquecida. À direita ou à esquerda, a reflexão final é simples: a vida é como um livro. Às vezes, precisamos encerrar um capítulo e começar o seguinte. No Brasil de hoje, a única coisa que a sociedade conservadora e progressista tem em comum são os políticos que não respeitam o eleitor. Que tal também deixarmos de respeitá-los?
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978