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União de Bolsonaro com PL de Valdemar tem prazo de validade

A máxima de que os opostos se atraem é mais uma mentira atribuída, protagonizada ou modificada geneticamente pelo presidente da República. A ida dele ao Partido Liberal (PL), de propriedade do ex-deputado e ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto, prova exatamente o contrário. Apesar de cabeludos arranca-rabos no passado, o presente juntou os dois e mais uma turma de afins para um futuro que parece definitivamente nebuloso. Enfim, pelo menos na fraternidade político-orçamentária estarão unidos até que a morte ou a próxima eleição presidencial os separe. E o rompimento será iminente, conflituoso e provavelmente até com separação de corpos caso a vitória em outubro de 2022 seja de Luiz Inácio ou de qualquer outro candidato que não seja Jair Messias.

Aderir de mala e cuia àquele que garante pelo menos a metade da cocada preta é o modus operandis do Centrão. Não será diferente com Bolsonaro, ele próprio benemérito do grupo. Consentida e aprovada por toda a família, a relação consolida antigo casamento econômico-afetivo, financeiro e emocional, ao mesmo tempo em que enterra de vez as promessas de honestidade, moralidade, integridade, probidade e devoção ao povo. Tudo isso desceu pelo ralo dos conchavos. Difícil imaginar alguma mudança, mas gostaria de um tête-à-tête descompromissado com os chegados do fanatismo ao mito, principalmente depois de a mídia marronzista e comunista ter recuperado a memória do tempestuoso caso entre ambos.

Não devemos esquecer, por exemplo, que, em maio de 2018, por meio de uma postagem no Twitter, Bolsonaro se dirigiu a Valdemar como “corrupto e condenado”. Aliás, mesmos adjetivos com os quais já havia se referido a outros membros do Centrão. Na época, ainda candidato, o presidente criticou a “velha imprensa de sempre” por “inventar” um encontro entre ele e o presidente do PL. “Vocês não sabem fazer outra coisa a não ser mentir e mentir”. Nada como um dia atrás do outro e uma noite no meio para complicar a vida de quem realmente mente e, talvez, aguçar os tutanos daqueles que ainda pensam. Também não é demais lembrar que, após a confirmação de Bolsonaro no partido de Valdemar, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, o filho 02, apagou tuite de 2016 com críticas ao dono do partido dito liberal.

Sem mandato e com passado manchado, inclusive com prisão, Costa Neto chegou onde queria e onde nunca imaginou estar. Como sua trajetória política, certamente essa união tem tudo para ser instável, na medida em que tanto Valdemar quanto Arthur Lira (PP-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI), entre outros integrantes do maior bloco fisiológico do mundo, estão preocupados exclusivamente com seus próprios interesses. Amizade, companheirismo e respeito ao eleitor são fonemas que não fazem parte do vocabulário da turma do meu pirão primeiro. Lembro uma recente entrevista de Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher de Valdemar, ao blog do jornalista brasiliense Vicente Nunes. Protegida por autoridades norte-americanas, ela vive nos Estados Unidos desde a devastadora revelação sobre esquemas de corrupção envolvendo o ex-marido durante o segundo governo Lula da Silva.

Christina e boa parte do Brasil, incluindo as torcidas do Flamengo e do Corinthians, acham que esse enlace tem prazo de validade. Talvez dure apenas até ficar claro que Bolsonaro não terá chance alguma de se reeleger em 2022. O limite da ex-primeira dama do PL é junho próximo. Pode ser que ocorra antes. Tudo dependerá da consolidação do nome de Luiz Inácio nas futuras pesquisas de intenção de votos. Embora ainda não seja unanimidade entre ex-bolsonaristas, o ex-presidente do PT é o que de melhor nos é apresentado diante da falta de candidatos com força política, lastro, capacidade de gerenciamento e até de aglutinação. Por isso, não é surpresa que, a pouco menos de um ano do pleito, Luiz Inácio esteja na dianteira em todos os cenários possíveis.

A respeito da atração entre opostos, está provado que eles se atraem porque se completam. Porém, por uma única razão, dificilmente conseguem conviver juntos. As diferenças são os motivos que os unem e os distanciam. Não há hipótese de ser diferente. Por fim, prefiro a máxima da lógica, segundo a qual os opostos se aproximam, mas o que verdadeiramente une é o que há em comum. Na verdade, estou mais para Vinícius de Moraes. Acordo pensando em poesia, desperto imaginando o que vou comer no almoço, que bebida tomarei ao cair da tarde, que série assistirei no início da noite e acabo escrevendo sobre política. Eita cachaça maldita. É a briga dos meus opostos. Ainda bem que meus pressupostos não decorrem da lei da física. Eles são consequência da lei do amor, aquela em que as similaridades é que geram atração e reciprocidade.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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