Peito estufado, Urias fazia cara de mau por onde passava. Quem não o conhecia tratava logo de imaginar que fosse alguém destemido, desses que é melhor não mexer. Prudente mesmo era olhar pro chão e passar direto para não causar contenda desnecessária.
Mas eis que, lá pelos idos de 2023, o homem apareceu fardado. Pois é, virou policial militar. E o peito, desde então, estufou ainda mais, que nem de pombo que corteja a amada. Tanta altivez não passava despercebida, ainda mais aos olhos de quem não conhecia o gajo.
Mal pisava na rua, Urias fazia questão de passar na padaria do Joaquim para comprar um sonho, que seria seu lanche no final do expediente. Apesar de poder comprar tal iguaria em qualquer padaria próxima ao trabalho, queria porque queria que todos os vizinhos soubessem que ele, a partir de então, era o guardião da região. E que os gatunos ficassem cientes de que teriam que buscar outros cantos para cometerem ilícitos.
Pois eis que, na última sexta-feira, um larápio resolveu agir justamente no estabelecimento do Joaquim. O ladrão, quando já estava se evadindo do local, deu de cara com o Urias, fardado até os dentes.
— Pega ladrão! Pega ladrão! – Joaquim gritou.
Urias, pego de surpresa por tamanha ousadia, tentou segurar o patife. Tentou apenas, pois tomou uma rasteira e caiu de fuça no azulejo encardido da padaria. Mulambo, o vira-lata desdentado que dormia sossegado ao lado, foi mais eficiente. Mordeu o calcanhar do ladrão, que, mesmo assim, conseguiu escapar.
Enquanto os populares se aglomeram em frente à padaria, Mulambo foi lamber o rosto do Urias, que recobrou os sentidos. O homem se levantou atordoado e, talvez, não tenha percebido o que as pessoas por ali conversavam.
— Que ladrão audacioso.
— É verdade!
— Assaltou a padaria na frente do Urias.
— Ih, esse aí não prende nem piolho entre as unhas – disse a velha Gertrudes, que conhecia o policial desde menino.