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Urnas que derrotaram Bolsonaro fazem falta a Biden e Trump

O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro vota na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, no Rio de Janeiro

Exagerada ou apenas resultado da emoção que ainda vivia por conta de tudo que experimentou e enfrentou durante a vitoriosa campanha eleitoral? Apesar de tardia, é claro que a indagação é uma referência ao discurso feito pelo presidente eleito em sua primeira aparição no centro onde está concentrado o governo de transição. Para os mais de 60 milhões de eleitores que preferiram a democracia à tirania, certamente não importa o que tenha sido. Importante é que a reação de Luiz Inácio Lula da Silva às críticas do presidente em exercício Jair Bolsonaro, de parte das Forças Armadas e de todos os seus seguidores ao sistema eletrônico de votação foi bem recebida pela comunidade científica do Brasil e do mundo. A única dúvida permanece entre aqueles que reclamariam ainda que a disputa tivesse sido de cuspe à distância.

Consagrado para seu terceiro mandato presidencial, Lula teve a coragem de também recomendar aos generais, sobretudo aos que compõem o Ministério da Defesa, um pedido de desculpas à Justiça Eleitoral, cujas urnas eletrônicas há 26 anos são reconhecidas interna e externamente. Claro que as desculpas não vieram e jamais virão. Faltou a necessária humildade aos que se acham superiores. A mesma humildade sobrou àqueles que, silenciosamente, têm certeza de que são maiores e, por isso, não reagem às loucuras dos derrotados. Também faltou coragem para reconhecer que, apesar de alguns percalços de última hora, tanto no primeiro quanto no segundo turnos os vencedores foram conhecidos e anunciados após três horas do encerramento da votação. Se não é um recorde, estamos bem melhores do que o melhor.

Considerando que, de fato e de direito, o Brasil ainda não faz parte do bloco de potências econômicas, estamos anos luz à frente, por exemplo, dos Estados Unidos do magnata e perdedor Donald Trump, maior economia do planeta. Pois bem, faz duas semanas que Trump e Joe Biden disputam a primazia do Capitólio. Os eleitores norte-americanos tentam há cerca de 15 dias conhecer todos os seus deputados e senadores. Ainda não conseguiram, embora já saibamos quem terá a maioria nas duas Casas. Pode ser que consigam amanhã. Quem sabe depois de amanhã, no Natal, Ano Novo ou na sucessão de Luiz Inácio. Não temos nada como isso. Apesar dos desvarios dos derrotados, nossa eleição foi, é e sempre será rápida e sem fraudes.

Referência mundial em votações eletrônicas, permanecemos atacados por nós mesmos. Nada de anormal para uma nação que não se respeita, que não respeita seu povo e cujo presidente fez campanha contra o sistema e segue fazendo birra. Vinte e dois dias depois do resultado final da eleição, continua enclausurado, não disse que perdeu, não cumprimentou o vencedor e, veladamente, insufla os maluquetes que teimam em bloquear rodovias ou promover manifestações em frente a quartéis. Ou seja, seguindo os ensinamentos do “mestre” Donald Trump, Bolsonaro insiste na tese golpista de fraude. Trump perdeu para Biden em 2020, não ganhou como imaginava as eleições de meio de mandato e dificilmente ganhará em 2024. Em outras palavras, ambos não aprenderam nada.

Voltando às urnas eletrônicas do meu amigo Zé, interessante é que a aludida fraude não alcançou um razoável contingente de bolsonaristas ditos raiz eleitos graças a maquininha inventada justamente para coibir a sanha dos cangaceiros do voto. Por conta do equipamento que eles criticaram por meses, o vice-presidente Hamilton Mourão, o astronauta Marcos Pontes e o ex-ministro Ricardo Salles foram alçados, respectivamente, à condição de senadores pelo Rio Grande do Sul e São Paulo e deputado federal por São Paulo. Entre muitos outros e também com os votos depositados e contabilizados nas urnas que eles satanizaram enquanto puderam, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) e as deputadas Bia Kicis (DF) e Carla Zambelli (SP) foram reeleitos. Poderíamos dizer que as urnas que elegeram Lula estão fazendo falta para Biden e Trump.

De todos os que desconfiavam da urna, somente Jair Bolsonaro não se reelegeu. Mais fácil acusar do que aceitar que não dispunha de tantos votos quanto imaginava. Perdeu para quem os tinha, o que não é desonra. Pelo contrário. Não adianta o silêncio rancoroso. Apareça, tenha humildade, se recomponha e, no futuro, tente lutar com “armas” menos mesquinhas, tendenciosas e matreiras. Por hora, o povo entendeu o que um e outro candidato almejavam, as urnas do Zé não falharam, a violência não imperou e o golpe não prosperou. Isso quer dizer que o tempo não parou para ver a banda passar, a fila andou e o país mudará em breve. Vale lembrar que Putin já entregou parte do território que surrupiou da Ucrânia e que até o líder chinês Xi Jinping deseja a paz mundial. O piloto sumiu, mas a metade menos um do Brasil ainda defende os tanques nas ruas. Como disse Lula em Portugal, querem o país mais triste e sem ninguém para visitá-lo. Que sejam loucos sozinhos.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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