Dia das Bruxas
Americanos devem gastar 9 bi de dólares para assustar os outros
Publicado
emLeandra Felipe
Considerada uma das mais importantes festas nos Estados Unidos, cerca de 55% dos norte-americanos celebram nesta terça, 31, o Halloween, o Dia das Bruxas. A festa também movimenta o mercado no país. O setor estima faturar US$ 9,1bilhões este ano. Em média, os norte-americanos gastam US$ 86, cerca de R$ 284 com produtos, como decorações, fantasias e doces.
Em meados de agosto, as prateleiras dos supermercados dão lugar a estantes dedicadas ao tema, com abóboras, velas, vassouras, teias de linha que imitam teias de aranha, caveiras, bruxas, espantalhos, fantasmas, cruzes, vampiros, demônios, fantasias e doces. O Halloween ou Dia das Bruxas é a primeira grande celebração do outono norte-americano, e ocorre um mês antes do dia de Ação de Graças (Thanksgiving), realizado na terceira quinta-feira de novembro.
A gerente de relações públicas de uma rede de supermercados, Brenda Reid disse que a festa é uma das mais importantes para o comércio. “Nosso forte são produtos de padaria e o Halloween representa uma das épocas mais fortes para doces (balas) e confeitados”, diz a gerente da rede de supermercados, que oferece bolinhos e biscoitos com cores características da festa: tons fortes de laranja, verde, lilás e preto, bem como balões temáticos com fantasminhas, caveiras bruxas.
Turismo – O mercado de entretenimento também fatura. Há passeios guiados a cemitérios, alguns com atores vestidos de fantasmas. Além disso, as tradicionais Haunted houses (casas mal-assombradas) recebem milhares de visitantes que pagam para ser “assustados” por atores caracterizados de monstros, demônios, zumbis e outras criaturas que parecem ter saído de filmes de terror.
A estudante Keith Stuart, de 18 anos, diz que vai a casas do terror desde os 12 anos. “Comecei a vir com meus pais”. Perguntada pela reportagem qual é a graça do passeio, ela responde: “Levar susto e ficar com medo”. Os passeios, em geral, são realizados à noite.
Para as crianças, a opção são os passeios em pumpkin farms (fazendas de abóbora), que disponibilizam abóboras para serem esculpidas e servirem de castiçais para velas.
Fantasias – As festas a fantasia ocorrem em escolas, empresas e festivais ao ar livre na semana anterior. O dia 31 é mais reservado para o trick or treat, quando crianças saem pedindo doces de porta em porta.
Os pequenos usam acessórios como perucas ou óculos, até fantasias completas. Segundo a NRF, as fantasias mais vendidas para crianças este ano foram as de super-heróis, seguidas por princesas, animais e de personagens do filme Star Wars (Guerra nas Estrelas). Entre os adultos, a mais vendida é de bruxa, seguida por super-heróis e piratas. Os mascotes também se fantasiam. As mais procuradas são de abóboras, hot dog (cachorro quente), leão e pirata.
Festa não agrada todo mundo – Apesar da grande participação dos norte-americanos, quatro em cada dez cidadãos não celebram a festa nos Estados Unidos. A maioria por relacionar a celebração a práticas de ocultismo e satanismo.
A festa surgiu no século 18 com a celebração de um ritual celta que marcava o fim da colheita e início do inverno. Os antigos acreditavam que o frio e a escuridão permitiam o contato com os mortos. Na ocasião, usavam roupas especiais que, com o passar dos anos, foram substituídas pelas fantasias.
Nos bairros residenciais, por exemplo, o sinal dos adeptos é a decoração nas casas com abóboras, espantalhos, caveiras, fantasmas e até cemitérios fictícios. Ao contrário, quem não celebra a festa não decora a casa. Quando as crianças e adolescentes vão em busca de doces, a regra é não tocar a campainha das casas sem decoração e que não estão com as luzes acesas.
Nos Estados Unidos, a religião predominante é a protestante, apesar de boa parte se autodenominar não praticante. Levantamento realizado pelo Pew Research Center – fundação de pesquisa independente – aponta que 70% da população se identificam como cristã. A maioria é protestante, dividida entre grupos tradicional e também evangélicos neopentecostais.
Caixa de supermercado no norte de Atanta, Julie Brown, 34 anos, diz que nunca celebrou o Halloween. “Meu pai me contava histórias horríveis de pessoas que ficaram possuídas pelo demônio durante a festa. Sempre tive medo”. Católica praticante, ela diz que os filhos também não brincam e que ela compra doces para eles.
Por outro lado, a quantidade de pessoas que se autodenominam cristãs e celebram a festa é significativa. Para o professor de teologia, religião, cultura e sociedade do Instituto Emory, universidade da Geórgia, Luís Wesley de Souza, diz que as igrejas protestantes mais tradicionais, como a episcopal americana, metodista, batista e outras tradicionais, são um pouco mais abertas para compreender o significado cultural da data.
Segundo o teólogo, os grupos mais fechados têm “muita dificuldade neste tipo de celebração cultural por focalizarem nos pontos da festa que se opõem frontalmente à prática religiosa cristã”. As referências à magia negra, ao ocultismo e os rituais que cultuam a morte são alguns dos exemplos.
Luís Wesley de Souza diz que também há exageros. “Alguns grupos vem a origem do Halloween como derivada do ocultismo quando estes são apenas elementos que foram agregados. Na verdade, não é assim. O Halloween é que pegou carona com a Festa da Colheita nos países anglo-saxônicos, particularmente nos Estados Unidos”, defende o professor, que reverendo em uma Igreja Metodista.
Vários símbolos do dia, a abóbora, por exemplo, significa boas-vindas à colheita. “Não é que as igrejas e os cristãos praticantes que fazem celebrações de Halloween concordam com tudo o que é feito. O que há é a atitude responsável de se perguntar o que é redimível. O que devemos aceitar porque é mera expressão cultural e que faz parte do imaginário coletivo”.
Brasil – No Brasil, há comemorações do Dia das Bruxas, mas foi criado também o Dia do Saci, em contraposição à tradicional festa norte-americana. A ideia é incentivar as crianças a celebrarem o folclore nacional. Desde 2003, quando a data foi criada, diversos municípios já oficializaram, como São Luiz do Paraitinga (São Paulo – onde há uma forte tradição de observadores de saci), Vitória, Uberaba (Minas Gerais) e Fortaleza.
“Estava havendo uma invasão cultural representada pelo Halloween que não tem nada a ver com a cultura brasileira”, aponta Mouzar Benedito, da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), que está diretamente ligada à escolha da data da celebração.