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Rodas da vida

Usem mais as bicicletas, um recado de paulistas para brasilienses

Publicado

Autor/Imagem:
Daniel Mello

A expansão do uso da bicicleta poderia reduzir os gastos com saúde pública e até impulsionar a economia da capital paulista, segundo estudo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). A Pesquisa de Impacto do Uso da Bicicleta na Cidade de São Paulo, que serve de exemplo para outras cidades, como Brasília, estimou em R$ 34,4 milhões por ano a economia que o Sistema Único de Saúde (SUS) teria com a redução das internações por problemas no aparelho circulatório e diabetes, se o transporte ativo por duas rodas fosse usado no máximo do seu potencial.

Para fazer a estimativa, o estudo avaliou o percentual de viagens de ônibus e de carro que poderiam ser substituídas por trajetos de bicicleta. São as viagens pedaláveis ou facilmente pedaláveis, deslocamentos de até 8 quilômetros realizados entre as 6h e as 20h por pessoas de, no máximo, 50 anos. Se enquadram nessa categoria, 31% dos deslocamentos feitos por ônibus, meio de transporte usado em 35% do total de viagens na cidade de São Paulo; e 43% dos feitos por automóvel, transporte usado em 31% dos deslocamentos na capital. O restante, 34% das viagens, é feito por meios menos poluentes, como o metrô, ou com a combinação de mais um modo de transporte.

A partir do uso da bicicleta, seria possível, segundo o estudo, reduzir o fator de risco da falta de atividade física para aparecimento de diabetes e doenças cardiovasculares. Pessoas que não praticam atividades físicas têm o dobro de chances de ter um infarto do que os que fazem exercícios regularmente. Enquanto para hipertensão e diabetes, a chance é 50% maior em comparação dos mais sedentários em relação aos que mantém atividades com frequência.

Com isso, foi estimada uma economia de 13% nos R$ 255,2 milhões gastos anualmente pelo SUS no município com tratamento de doenças do sistema circulatório. Em relação à diabetes, a redução potencial ficou em 8% dos R$ 6,2 milhões usados para remediar complicações causadas pela doença.

Economia – A substituição dos carros e ônibus pela bicicleta traria ainda, de acordo com a pesquisa, uma série de impactos positivos sobre as riquezas produzidas pela cidade, medidas pelo Produto Interno Bruto (PIB). Os ganhos viriam da redução do tempo de deslocamento e da diminuição de gastos com transporte, levando o dinheiro economizado para outros produtos e serviços. Somente a diminuição dos congestionamentos poderia elevar em 0,035% o PIB municipal, injetando R$ 225 milhões na economia da cidade.

O ganho de tempo com a substituição dos deslocamentos de ônibus por bicicleta representaria, segundo a pesquisa, um ganho de R$ 623 milhões por ano, além dos R$ 18,7 milhões que deixariam de ser perdidos com o tempo economizado com as viagens de carro. De acordo com a pesquisa, ao usar a bicicleta, o passageiro dos coletivos deixam de passar, em média, 19 minutos por dia no trânsito, e para os motoristas de automóveis o ganho de tempo é de cerca de 9 minutos diários.

Dificuldades – Os deslocamentos por bicicleta ainda enfrentam, entretanto, uma série de entraves na capital paulista. A diretora da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), Aline Cavalcante, destacou que é necessário ampliar a infraestrutura voltada para o meio de transporte. “Os ciclistas iniciantes demandam mais por infraestrutura do que os que já são experientes. Então, para estimular o uso da bicicleta, em especial entre os que estão começando a fazer transição de modal, é necessário ter infraestrutura cicloviária”, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil.

Além disso, Aline destaca a importância de que a malha cicloviária da cidade continue a ser expandida. “Hoje, o maior problema do ciclista urbano é como atravessar os rios”, diz a ciclista sobre a falta de conexões entre as ciclovias enfrentada em algumas partes da cidade. “Hoje, não tem bem uma rede formada. A gente tem ciclofaixas espalhadas pela cidade”, enfatiza.

Os problemas de planejamento são, inclusive, de acordo com a ativista, um dos entraves para o aproveitamento das vias específicas. “Muitas vezes, aquela infraestrutura não está sendo utilizada, ou porque não é o melhor local para bicicleta, porque tem muita subida e tem uma alternativa mais plana; ou porque não está conectada com a rede”, analisa.

A expansão da malha cicloviária tem que vir, segundo a diretora da associação, acompanhada de outras medidas que tornem a circulação mais amigável para as bicicletas, como a diminuição dos limites de velocidade nas ruas e avenidas. “O acalmamento do tráfego seria reduzir a velocidade nas vias urbanas. Isso é uma política global para reduzir o número de mortes de pedestres e ciclistas”, acrescenta.

Esse processo de mudança na lógica do transporte leva tempo, ressalta Aline. Por isso, a importância de estabelecer projetos de curto, médio e longo prazo para melhorar a mobilidade na metrópole. “Eu diria que políticas públicas para se mudar uma cultura como a gente teve no Brasil, nos últimos 50 anos, tem que se pensar por aí, uns 50 anos”.

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