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Utopia do voto exige que caminhada por mudança continue

Ao decidir entrar nessa campanha, me candidatando a deputado federal, de inicio, pé no chão, eu não enxerguei facilidade em obter uma vitória mas acreditei “fazer bonito” a partir da “estrutura” prometida quando fui convidado por Valadares Filho a me candidatar. Quando nenhuma promessa foi cumprida pelo PSB, sem nenhum recurso do Fundo Público de Campanha, pensei desistir. Mas depois refletindo, vi a possibilidade de fazer política no melhor sentido da palavra, com uma campanha onde as ideias, as palavras e o sentido do parlamento associado às pautas sociais, dariam o tom à minha campanha. Foi o que fiz.

Mas também não tenho dúvida que ao final de 40 dias de campanha saí dela bem maior que quando entrei: conheci novas e admiráveis pessoas, recebi apoios inusitados, tive na família o alicerce. Conheci outras realidades, aprendi, cresci. Sem recursos do fundo a que tinha direito, apenas doações de familiares e amigos, formei diminuta equipe, tive uma legião de apoiadores espontâneos: fui à luta como um Dom Quixote de capa, espada e lança, um Rocinante e minha Aldonza Lorenzo/Mônica que, como no romance de Cervantes, foi meu principal esteio. Não tive somente um Sancho, foram muitos Sanchos e Sanchas que como eu, acreditam na utopia.

Viajei, conversei com pessoas diversificadas sobretudo, os despossuídos, vi realidades que o conforto da minha vida não me fazia enxergar. Vi muita gente à espera (não na esperança) por uma tábua de salvação para o alivio do imediato, porque o sofrimento está ali e não pode esperar pelo futuro. Como dizer a essa gente que a educação é o caminho, que é possível fazer leis que os libertem daquele sofrimento, se a fome e as necessidades estão pedindo alívio?

Mas se a realidade demonstrou tudo isso e se os resultados das eleições demonstram o assustador avanço da estupidez fascista travestida de verde e amarelo, mais que nunca compreendi que é necessário lutar. Eis aí, portanto, o maior dos desafios: como lutar para os desvalidos se os despossuídos de tudo, sobretudo de dignidade, se entregam à servidão voluntária com um título na mão quando no título de eleitor estaria o instrumento da própria libertação?

Tentei demonstrar o valor do voto com palavras, mas perdi para muitos que recebem do eleitorado o voto pelo estúpido valor do poder econômico, esse ano agravado pelo fato de serem valores dos cofres públicos. Como então combater a pior elite da história, se essa elite tem a cartilha sedimentada da dominação, que se aperfeiçoa e se reproduz de geração em geração?

Percebi o quão difícil é oferecer palavras e ideias a quem tem fome e vive cercado das mais básicas necessidades. Como na canção de Ivan Lins e Victor Martins, contudo, “desesperar jamais… afinal de contas não tem cabimento entregar o jogo no primeiro tempo…”

Depois dessa campanha aprendi o sentido evangelizador de pregar no deserto. E de combater moinhos de vento. Vesti-me definitivamente com a capa e a espada da utopia. Sonhar, ainda que seja um sonho impossível. E, como bradávamos na juventude, lutar quando é fácil ceder porque a luta continua e a utopia haverá de tomar o lugar da desesperança, mas a utopia de que falava o escritor uruguaio Eduardo Galeano (“Veias Abertas da América Latina”; “O Direito ao Delírio”; ”O futebol ao sol e à sombra”) citando o cineasta argentino, Fernando Birri: “a utopia é como a linha do horizonte. Quanto mais a gente dá passos, mais ela se afasta. Mas ela nos ajuda a caminhar”.

Uma lição, portanto, para seguir pela trilha da utopia transformadora de realidades, onde 1.087 pessoas acreditaram nessa mesma utopia. O que não é pouco para recomeçar a caminhada.

*Advogado, poeta e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas

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