“(…) explorar um futuro alternativo para um país como o nosso… carente de princípios éticos e políticos”. José Viegas Filho; “(…) a distopia de uma nação que tenta se encontrar e volta a se perder”. Luiz Araújo; ele (o autor) reduz e transmite “(…) o pensamento ideológico a um pragmatismo puro, frio, cínico, onde qualquer discussão de natureza moral irá cair, inevitavelmente, no campo da ingenuidade”. Leandro Fortes; “(…) o destino de uma nação é atacado por uma peste específica e pelas pestes imanentes da humanidade”. Roberto Medina.
Esses quatro comentários, com as devidas aspas, estão na quarta capa de 2047 – A Revolução dos Dementes. O autor não é sujeito oculto. É Max Telesca, que me presenteou com um exemplar do seu romance distópico. Li a orelha assinada por Luiz Fernando Emediato. Depois, a dedicatória. O dia, 14 de junho de 2022. À noite, comecei a folhear a obra, até que se me pesaram as pálpebras. Dois mil e quarenta e sete virou livro de cabeceira, alternando a posição de sob ou sobre o Alcorão. Ia muito do estado de espírito.
Aqui na Praia das Conchas, em Alagoas, onde resido há pouco mais de um mês, decidi-me a arrumar a estante com escassos livros. Todos uma raridade. Entre as relíquias, 2047. Reli a dedicatória e os comentários descritos acima, palavras de verdadeiras sumidades quando o assunto é (também) literatura. Afoito – coisa de repórter intempestivo – imaginei-me crítico literário. Mas, ponderei, quem sou eu para associar meu nome àquelas personalidades? Desliguei o Notebook e fui caminhar na praia, aproveitando a maré baixa.
O livro de Max, porém, não me saía da cabeça. E fui desenhando mentalmente um texto com as cores pinçadas por Telesca. É minha homenagem a esse advogado, que tem um lado que me era desconhecido. Um romancista de mão cheia, que brinca com personagens como brinquei, horas antes, com caranguejos e guaiamuns que cruzavam à minha frente, entre o mar e o mangue.
No vasto horizonte da imaginação, entre os recantos mais inexplorados da mente humana, reside uma utopia peculiar e intrigante, habitada pelos dementes. Não são, contudo, os dementes que o mundo rotula com um estigma de loucura, mas sim aqueles cujas mentes transcendem as barreiras da realidade e dançam em harmonia com os devaneios mais selvagens e as ideias mais extraordinárias.
Nessa descrição singular de Max, as fronteiras entre o possível e o impossível se desfazem como (tomando emprestado de Raimundo Fagner) espumas ao vento. Em 2047 as árvores são testemunhas silenciosas de conversas entre o Sol e a Lua, enquanto as estrelas tecem tapeçarias de sonhos no Céu noturno. Os rios fluem com histórias antigas sussurradas pelas brisas, e as montanhas guardam segredos antigos entre suas fendas rochosas.
Na utopia dos dementes, a loucura é celebrada como uma forma de libertação. É um lugar onde o absurdo é a norma, e a sanidade é vista como uma prisão para a mente criativa. Justamente onde os loucos reinam supremos, construindo castelos de nuvens e pontes de arco-íris para conectar as ilhas da imaginação.
Nesta terra distorcida pela mente, a realidade é moldada conforme a vontade dos seus habitantes mais excêntricos. As leis da física são meras sugestões, e o tempo dança ao ritmo de corações desvairados. As flores cantam canções de amor que soam na brisa, e os pássaros pintam quadros com seus voos graciosos.
No entanto, Max deixa isso claro, nem tudo são sonhos coloridos na utopia dos dementes. Há sombras espreitando nos cantos mais obscuros da mente, prontas para transformar a fantasia em pesadelo. Os labirintos da loucura podem ser tão perigosos quanto empolgantes. E é fácil perder-se nas paisagens tumultuadas onde circulam nossos neurônios.
Mas, apesar dos perigos, os dementes persistem em sua jornada rumo ao desconhecido. Eles abraçam a loucura como uma aliada, navegando pelas correntes turbulentas da criatividade com coragem e determinação. Pois, para eles, a utopia dos dementes é mais do que um refúgio da realidade; é um lar onde podem ser verdadeiramente livres para serem quem são.
É assim, como entendi, que a utopia dos dementes permanece como um tesouro oculto, conhecido apenas por aqueles corajosos o suficiente para explorar os recantos mais profundos da mente humana. É um lugar onde a loucura e a genialidade se entrelaçam em uma dança eterna, alimentando o fogo da criatividade e inspirando aqueles que se aventuram em seus domínios desconhecidos.
Max Telesca nos apresenta esse futuro. E olha que 2047, o ano, está logo ali.