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Quem rouba, será picado

Vacina que salva vida no País, também corrompe e incrimina

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior*

Primeiro e mais importante item de medição da força de um governo são os votos conquistados por seu líder nas urnas eletrônicas. Na sequência, também tem peso dez a capacidade de arregimentar ao longo da gestão apoios nas duas casas do Congresso Nacional. Imprescindível, porém, é ter preparo para o cargo, carisma para fazer do povo um aliado de todas as horas e uma boa dose de humildade para jamais se permitir uma autoanálise como um ser acima do bem e do mal. Estão no ostracismo ou no total esquecimento todos que passaram batido à máxima de que tudo vai e vem. Apenas para ilustrar, Donald Trump perdeu onde havia ganho e Lázaro Barbosa morreu antes que pudesse dizer a quem servia.

É a vida que nos é apresentada neste plano, no qual tudo tem um porque, tudo faz parte de um planejamento maior e invisível. E não adianta tentar mudar. Ainda que por conta dos erros dos antecessores, o atual presidente, eleito democrática e maciçamente pelo sistema eletrônico de votação (sem voto impresso) teve tudo à disposição. Entretanto, começou errando quando se achou mais forte do que Deus e acima de tudo e de todos. Elevado à condição de mito por um conjunto de pessoas fanatizadas e carentes de ídolos, não percebeu que, além de efêmero e cheio de obstáculos, o poder de um homem, seja ele o que for, é proporcional à forma como e para quem governa, sobretudo ao modo como age desde seus suntuosos aposentos.

Há uma diferença abissal entre aceitar a adjetivação, honrá-la, pensar e agir desatinadamente como se realmente fosse um personagem fictício. Em um passado recente, um de nossos presidentes também se achou superior. Eleito como lindinho caçador de marajás, acabou caçado sem dó nem piedade por entender que se bastava. Perdeu o chão ao perceber que sempre esteve só e que, tão de repente como se viu rodeado de bajuladores, nunca teve o apoio que achava que tinha. Seus seguidores (os do Centrão) eram (e são) exclusivamente movidos a interesses. Pularam de galho tão logo descobriram que aquele em que se seguravam estava apodrecido. Parece um filme repetido. E é. A única diferença está na proximidade com os céus: enquanto um se achava Deus, o outro (o atual) tem certeza de que é. Assim são as criaturas.

Com a rapidez de um raio, esquecem que até os icebergs derretem. No caso concreto, quem com vacina fere com vacina acabará ferido. É a lei da vida. A frase não é bíblica, mas bem que poderia ser, pois não devemos olvidar um feito de passado recente e contra o qual nada se fez. Refiro-me aos malfeitos produzidos por um ex-parlamentar eleito para o cargo mais alto do país. As afrontas à lei não são novidades. Elas começaram já no primeiro dia de mandato e só foram percebidas anos depois quando, em plenário, idolatrou um emérito torturador, ameaçou colegas, atingiu outros e outras com graves ofensas homofóbicas e sexuais e, por várias vezes, atentou publicamente contra a mesma democracia que jurou respeitar ao longo de várias eleições com a urna eletrônica e, repito, sem voto impresso.

Respondendo a uma famosa atriz que perguntou como deixamos ele ser eleito, o voto é secreto, pessoal e normalmente de acordo com a consciência de cada um. Ele ganhou com apoio da população sob o argumento de que seu governo seria diferente. Rapidamente virou mais do mesmo e, pouco mais de um ano após o início da administração, fechou um dos maiores acordos do toma lá dá cá com o grupo que fingia rejeitar. Como se fosse médico, fez pouco caso da ciência, mandou todo mundo para a rua, determinou o fim do uso da máscara facial, receitou medicamentos sem eficácia e não comprou vacina a tempo de salvar 514 mil vidas. Quando pensou comprar, pagou o dobro do valor real. De todo modo, foi eleito para saber tudo sobre os ministérios. Se não sabe é porque não quer. Eu não contribuí para sua vitória e a atriz parece que também não.

Isso não o fez menos presidente. Embora sempre diga que foi roubado, foi uma disputa honesta contra um suposto “poste” e vencida por expressiva margem de votos. Portanto, inquestionável. O resultado será sempre respeitado. Todavia, não devemos ter medo de usar o direito constitucional da liberdade de expressão para afirmar que poucos tinham conhecimento de sua capacidade quixotesca de dividir, atacar, xingar, menosprezar e não governar. Pode ser um exemplo de honestidade – discurso com o qual foi eleito -, mas falha em vários outros aspectos. Talvez o principal deles seja o de não manter amizades. Rancorosamente, defenestrou militares e civis que estiveram a seu lado desde o início de uma campanha presidencial que poderia ter feito água. Ainda pode. Tudo indica que fará. A Covaxin corrompe, imuniza, incrimina, criminaliza e alija.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

**Matéria alterada às 15h09 para correção de nome.

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