Vagueando pela noite, com sonhos abortados por pesadelos do passado

Sou talvez uma sombra, ou um eco no nevoeiro do inverno, talvez um sussurro perdido na brisa da madrugada, ou uma silhueta de mulher a dançar pelas avenidas da vida.

Caminho meio lenta, deixo pegadas para não me perder no tempo, meu nome talvez seja apagado com uma borracha na luz cinzenta do entardecer.

Meu perfume o vento levou; minha essência, recolheu em minha alma. Sou um rosto sem nome, carregando apenas o sonho de ser feliz um dia.

As luzes da cidade onde vivo murmuram histórias antigas; nas pedras, nomes gravados; na luz da lua, segredos guardados.

E eu, apenas mais uma sombra errante na solidão da noite, perdida na multidão.

Talvez eu seja o reflexo de um sonho esquecido, ou apenas uma pegada na areia que a maré apaga.

Sob a luz da lua refletida nas águas vejo minha imagem e reflito: será que meus passos não deixaram marcas? Ou sou apenas o ontem que desapareceu no hoje?

Minhas mãos trêmulas ainda sentem o peso dos anéis de outrora. O tempo me olha desconfiado, com um olhar ausente, como se eu nunca tivesse existido.

As ruas, ao recordarem minha poesia melancólica tantas vezes cantada, agora choram nos braços dos paralelepípedos.

Minha silhueta baila, deixando-se levar para onde o vento quiser; apenas minha alma chora calada: é a saudade de um amor distante.

Uma neblina cobre com seu manto de noiva as colinas; o vento vagueia sem rumo, sem ser esperado por uma donzela na janela.

Ouço sussurros me dizendo que sou a poesia não rimada, a saudade de alguém distante, o eco de um suspiro apaixonado, um nome nunca pronunciado, o último verso que o vento recita em meu ouvido, fazendo-me sofrer.

Se você ouvir minha canção no rádio, meu poema ser recitado, ou meus versos cantados, não se preocupe, não tenha receio: sou apenas a sombra de uma mulher que vagueia na solidão da noite, com seus sonhos abortados pelos pesadelos do passado.