Pretende viajar sozinha? Evite alguns países, e curta outros
Publicado
emMarta Nobre, Edição
O Brasil é o terceiro País do mundo que mais constrange mulheres que viajam sozinhas. Numa lista de 10, quem encabeça é a Índia. Mas há aquelas nações onde as mulheres podem se sentir em casa. É o caso da Islândia, Dinamarca, Áustria…
O certo é que cada vez mais as mulheres fazem a opção de viajar sozinhas. Seguindo os cuidados básicos recomendados para qualquer turista, é possível aproveitar bem a viagem, mas vale a pena pesquisar sobre os lugares mais seguros e inseguros antes de escolher um destino.
Para ajudar leitoras a decidirem seu próximo destino, as comissárias de bordo – mulheres que mais viajam o mundo – relatam suas impressões sobre os lugares por onde passaram e dão dicas de segurança.
Para Lada Orságová, 40, da República Tcheca, que trabalhou em companhia aérea por sete anos e conheceu mais de 50 países, a Índia é uma das opções mais complicadas para as mulheres. Apesar de ser um dos seus destinos favoritos, Lada conta que enfrentou algumas dificuldades em relação ao comportamento dos indianos.
“Não passei por nenhuma experiência realmente grave de assédio, mas é muito comum um homem passar a mão nas suas nádegas quando você está andando em meio à multidão. Aprendi a andar com as mãos para trás, cobrindo minha bunda, sempre que estava nessa situação”, revela a comissária.
Além disso, também são frequentes no país, com altos índices de estupro, abusos no transporte público. Em trens, não são raros os homens que esperam uma passageira dormir para tentar tocar o corpo dela. Em razão dos crimes sexuais, a Índia ocupa a primeira posição na lista dos 10 países mais inseguros para mulheres viajantes do IWTC (International Women’s Travel Center, Centro Internacional de Viagem para Mulheres, em português).
Segundo Marta Turnbull, editora do site do IWTC, o objetivo da organização criada em 2014 é ajudar as mulheres a fazerem boas escolhas e administrar os riscos enquanto exploram o mundo. Para ela, se a viajante tem capacidade de lidar com os problemas que vai encontrar em alguns países deve seguir com o roteiro desejado. “Como alternativa, ela pode investir seu dinheiro de viagem em um lugar que é melhor para as mulheres”, diz.
Marta acredita que evitar destinos mais hostis impulsiona mudanças nesses países. “Quando muitas mulheres pararam de viajar para a Índia, o governo local e a indústria do turismo começaram a olhar para a segurança das turistas e passaram a oferecer serviços como andares exclusivos para mulheres em hotéis”, exemplifica.
Dados internacionais sobre violência, estupros, homicídios, roubos, conflitos políticos e religiosos são considerados na elaboração da lista dos países mais inseguros. Localidades em guerra ou períodos de grande instabilidade nem entram na avaliação. Países como México, Brasil e Colômbia também estão entre os dez piores.
Apesar de figurar na lista, Paula de Paula, 43, que foi comissária de voos nacionais e internacionais por 15 anos, teve uma experiência positiva na Colômbia. “Fui sozinha durante um Carnaval, saía sempre à noite e não tive problema. Fiquei em Bogotá, que achei bem tranquila, mas existem outros lugares mais perigosos na Colômbia”, diz.
Autora dos livros “Diário de Uma Comissária de Bordo”, “Idas, Vindas e Muitos Desencontros” e da página no Facebook Diário de uma Comissária de Bordo, Paula acredita que seguindo as regras de segurança que estamos acostumados no Brasil é possível viajar para qualquer lugar.
O assédio masculino assusta mais as turistas estrangeiras, nem sempre habituadas a cantadas ou olhares de cobiça. Para as brasileiras, o machismo ainda muito presente nos países da América do Sul não é tão diferente daquele vivenciado por aqui. Mesmo assim, Paula ficou incomodada com a abordagem dos argentinos. “A maneira de se aproximar deles é agressiva, pegam pelo braço, principalmente se percebem que a mulher é brasileira”, relata.
Em Cuba, Lada não gostou do jeito que os homens cercam as mulheres nos bares. “Tem sempre um cara flertando com você na esperança que você o convide para um drinque só porque é gringa”, relembra. Em sua lista pessoal, além da Índia, África do Sul, México, Colômbia e Brasil estão entre os países mais perigosos.
Observe os hábitos locais – “No Egito as mulheres também sofrem muito assédio, mas é menos ofensivo do que na Índia. É mais um assédio verbal constante”, conta Flávia Soares Julius, 43, autora do livro “Os Destinos das Comissárias de Voo – Guia com 50 Viagens Só Para Mulheres” (Panda Books). As mulheres locais não frequentam bares. As viajantes que quiserem ir devem estar acompanhadas de um homem. “Mas você será a única mulher no meio de um monte de homens fumando e bebendo chá”, avisa Flávia.
Depois de conhecer quase 60 países e fazer amizade com várias comissárias, fatos que a motivaram a escrever o livro, a autora acredita que um dos aspectos mais importantes quando se viaja sozinha é respeitar as regras das diferentes culturas. Flávia sugere uma boa pesquisa antes de sair de casa, para saber o que se pode ou não fazer em cada lugar, além de descobrir o que os moradores locais consideram ofensivo.
“Já chegue no país com a roupa ‘correta’. Afinal, você está viajando para conhecer uma cultura nova, não para quebrar regras. Se rebelar nessas horas é arrumar problemas. Se as mulheres não mostram as pernas, não mostre as suas”, acredita.
Roupas discretas e largas são alternativa para tentar não chamar atenção e, assim, tentar se proteger de olhares e julgamentos alheios. A comissária Milla Ferreira, 30, que mora em Dubai, lembra que alguns países no Oriente Médio têm regras bem rígidas e restritas quanto a vestimentas.
“É sempre bom levar na mala uma saia longa, um lenço e uma calça jeans”, afirma. Para quem pretende visitar templos, também vale a pena informar-se sobre o vestuário. Milla teve que comprar uma roupa para poder entrar em um santuário na Tailândia, que exigia que as pernas e os ombros estivessem cobertos.
Também é fundamental investigar sobre os hábitos de cada lugar. Em Dubai, por exemplo, andar de mãos dadas com um homem ou demonstrações de afeto na rua podem ser motivo para prisão.
Sozinha, mas nem tanto – As medidas básicas de segurança – como andar com a cópia do passaporte, colocar dinheiro, cartão de crédito e dinheiro por dentro da roupa e levar uma mochila pequena para os passeios – sempre merecem ser seguidas. Além disso, o melhor é priorizar o transporte público quando possível, pedir indicação de táxi no hotel ou usar aplicativos como Uber, em que os motoristas são previamente registrados.
Para evitar o assédio, uma dica é procurar se misturar a outras pessoas. “Fique próxima de grupos de amigos, famílias, idosos, nunca fique isolada”, recomenda Paula de Paula. Caso note alguém suspeito vindo em sua direção, a comissária sugere seguir a orientação que recebeu de policiais em Portugal: “olhe para essa pessoa de maneira firme, como quem diz ‘já te vi’. Isso acaba com o elemento surpresa, que é a tática mais usada para abordar estrangeiros em pequenos assaltos”, explica.
Em alguns lugares, também vale até mentir que se tem marido ou namorado, para reduzir o interesse masculino. No Egito, Flávia Julius conta que os homens sempre fazem muitas perguntas quando encontram uma mulher sozinha. “O melhor é responder que você tem namorado ou marido, que ele não veio porque está trabalhando, mas sabe onde você está e que seu sonho é ter filhos”, aconselha.
É fundamental pedir dicas sobre os bairros mais seguros em cada cidade e pesquisar as localidades antes de sair. “Se possível, sempre ande com um cartão do hotel e um mapa de localização, principalmente se é um lugar onde as pessoas não falam inglês e se você não fala a língua deles também, como na Tailândia e na China”, orienta Milla.
Para quem pretende curtir a vida noturna, ter companhia de outros turistas ou moradores locais diminui os riscos. “Junte-se a outros viajantes, hostels são ótimos lugares para conhecer gente, informar-se sobre o que está rolando e o nível de segurança”, diz Flávia.
Estar alerta e ter cautela são cuidados gerais que valem para qualquer lugar do mundo. Porém, para quem quer viajar sem tanta preocupação, o caminho pode ser escolher um país mais tranquilo para mulheres. Para as comissárias, a maioria das nações da Europa e Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia e Tailândia estão entre as mais seguras.
10 países mais inseguros
Índia
México
Brasil
Egito
Arábia Saudita
Turquia
Honduras
Quênia
Colômbia
Jamaica
10 países mais seguros
Islândia
Dinamarca
Nova Zelândia
Áustria
Suíça
Holanda
Finlândia
Canadá
Suécia
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