Valdinho, filho do seu Valdo, era um menino atento, apesar de, não raro, tirar conclusões não muito acertadas. Todavia, nada além do que acontece nessa fase da vida, tão repleta de imaginação. O problema, dizem os mais sábios, é quando tais enganos permanecem no avançar dos anos, e percebemos adultos preferindo explicações divinas e desacreditam a ciência.
Na escola, o menino, depois de receber as primeiras aulas sobre as operações matemáticas, já arriscava até a fazer contas de cabeça. Dona Jurema, a mãe, ficava toda orgulhosa do caçula. Tanto é que a mulher não perdia oportunidade de se vangloriar com as amigas.
— Valdinho, venha cá, meu filho!
— Mamãe, a senhora chamou?
— Chamei, sim. Mostre aqui pra Margarete como você é bom na soma e na subtração.
Apesar de acanhado, o moleque não errava uma. Se perguntassem quanto era seis mais oito, logo saía quatorze dos lábios do Valdinho. Dezoito menos sete era prontamente respondido pelo gênio dos números.
— Onze, mamãe!
— Que rapazinho inteligente você tem, Jurema.
— Obrigada, amiga.
Jurema não se continha, tamanha a felicidade de expor as qualidades do rebento, até que ela ouviu a campainha tocar.
— Atende pra mamãe, Valdinho.
E lá foi a criança abrir a porta. Era Alberto, marido da Margarete. Não tardou, o homem se juntou às duas mulheres. Margarete, talvez para agradar a amiga, fez questão de enaltecer o Einstein dos números.
— Meu bem, você sabia que o Valdinho sabe fazer contas de cabeça?
— Sério?
— Pois não estou dizendo? Quer ver?
— Faço questão!
— Valdinho, quanto é quinze mais doze?
— Vinte e sete, dona Margarete.
— Que mocinho inteligente a senhora tem, dona Jurema.
— Obrigada!
Nisso, Alberto foi até o guri e apertou a sua mão.
— Valdinho, meu rapaz, você é um crânio! Verdadeira pujança!
O menino, que desconhecia tal palavra, imaginou que o significado fosse outro. Tanto é que, envergonhado, abaixou os olhos, colocou as mãos sobre a barriga e disse quase mudo.
— Desculpe, seu Alberto, acho que foi por causa da omelete de cebola que comi no almoço.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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