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Valdirene troca Ceará por Pernambuco, arranja love e gagueja com novo ‘idioma’

Valdirene, cearense de Icó, há pouco se encantou com a praia de Enseada dos Corais, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Tanto é que decidiu largar tudo e se deliciar com o aconchego do mais aprazível município pernambucano, apesar dos costumeiros protestos de piauienses, maranhenses, alagoanos, cearenses, sergipanos, potiguares, paraibanos e, principalmente, dos baianos. Isso sem contar os pernambucanos de outras cidades. Que Cabo de Santo Agostinho é encantador, não resta dúvida. Então, prossigamos no conto antes que percamos o ponto ou algo assim.

Bela. Aliás, belíssima que era Valdirene, não tardou, engatou romance com um tal Charlie. O problema é que o sujeito só falava inglês, apesar de já residir no Brasil há seis meses. Quer dizer, algumas palavras estratégicas até que sabia: agulha frita, frevo, caipifruta, forró… Seja como for, isso não foi empecilho para o casal, mesmo porque a mulher colocou na cabeça que aprenderia o idioma do amado nem que fosse por osmose.

Entre um “love” e outro, a gata logo passou do “book on the table”. O problema é que, como costuma acontecer com os novos falantes, as palavras começaram a embaralhar a sua mente. De vez em quando, a garota se esquecia de palavras que sabia desde pequena, o que provocava certo desconforto nas pessoas ao redor.

— Moço, me vê um…

— Um o quê, senhora?

A mulher precisava apontar para o objeto desejado, até que o fulano, do alto de sua sapiência de vendedor de quitutes, desvendava tamanho mistério.

— Ah, mungunzá!

E lá ia a Valdirene se deliciar com seu quitute favorito.

Mas não pense você que a nossa heroína apenas tinha lapsos de memória. Não mesmo! Tanto é que, há poucos dias, lá estava a moçoila de bate-papo com a Dayanny, manicure mais afamada da praia. Apesar do festival de ipsilones, a amiga era nascida e criada na região.

— Mulher, por que você não taca um branco nessas unhas pra variar?

Valdirene, contrariada, olhou para a amiga, fez uma pausa estratégica e, finalmente, respondeu:

— Dayanny, Deus me free!

………………………

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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