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Valdireno, torcedor azarado, engole zoas da mulher

Valdireno Pedreira, maranhense de nascimento, havia se mudado ainda criança para o Rio de Janeiro. Cresceu, a tia lhe arrumou colocação em uma repartição pública, onde progrediu até o posto de chefe de seção, indo parar em Brasília assim que a nova capital deu seus primeiros passos. Aposentou-se por aqui e, por circunstâncias familiares, foi morar em Porto Alegre há pouco tempo, quando já estava batendo à porta dos 90 anos.

Na capital gaúcha, apesar de insistências dos novos amigos, não teve preferência na eterna disputa entre Grêmio e Colorado. No entanto, como o seu time do coração andava mal das pernas há quase uma década, começou a buscar outro esporte para assistir. Acabou por gostar de vôlei, o que gerou até uma rivalidade com a esposa, a Martalice, que foi torcer justamente para o principal rival.

Torcida pra cá, torcida pra lá, o casal passou a curtir aqueles momentos, até que o inevitável aconteceu. Pois é, o time do Valdireno virou freguês justamente da equipe da esposa. O velho não aguentou tanta zoação e foi dar um passeio pelo bairro Menino Deus, justamente no dia da final do campeonato, que seria disputado pelos times do casal. Valdireno não suportaria assistir ao jogo com esposa cornetando ao lado. Ah, não mesmo!

Enquanto caminhava pelas largas calçadas, percebeu que o bar do Vavá, ali próximo, estava lotado. Gente colorada, gente gremista. Pelo visto, era dia de mais um Grenal. Como o bar estava lotado, resolveu pedir uma água com gás ali mesmo no balcão.

Valdireno, próximo ao último gole, se lembrou da final do vôlei. Será que o seu time estava tomando mais uma surra? Impaciente como ele só, aproximou-se da enorme televisão do bar e não viu problema em trocar de canal, já que o Grenal nem havia começado. Acredite, o velho trocou!

O homem, com tal gesto, conseguiu o impossível por aquelas bandas: uniu torcedores do Internacional e do Grêmio. Valdireno, depois de uma saraivada de palavrões dirigidos à sua pessoa, achou melhor pagar pela água com gás e voltar para casa, onde encontrou a esposa com aquele sorriso no rosto. Pois é, o time da Martalice havia aplicado mais uma surra no do marido. Durma com essa, Valdireno!

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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